quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
domingo, 26 de outubro de 2014
UM DIA APÓS - Eleições 2014
UM DIA APÓS
Altair Ramos
Segunda-feira é bem certo
que acordarei tendo a certeza que será um dia normal de vinte e quatro horas, ainda
que nublado, o Sol não deixará de promover as suas explosões (por enquanto) além das nuvens e de muitas outras
camadas gasosas, emitindo a sua poderosa energia, perceberemos que nada mudou. A
minha rua não mudou de lugar, assim como não foi melhorado o sistema de
esgotamento sanitário, nenhum idoso passou a ser jovem. O Brasil continuará
sendo o mesmo país de sempre, ainda na América do Sul. Nenhuma metamorfose além
do que o imaginário nos impõe.
A Lei da Gravidade não será
revogada, continuando a reger o movimento dos planetas, criacionistas seguirão
os mesmos princípios de sempre, evolucionistas estarão refutando o design e a
perfeição dos olhos, um ou outro mudará a sua crença, mas isso é pessoal,
particular de cada um. As bases da física estarão sempre a procura de um Einstein,
a razão em busca de um Carl Seagan, e os Papas
continuarão a reorganizar as suas igrejas, sem qualquer nova revelação ad infinitum. Enquanto o universo
continua a expandir-se
Não há previsão para queda
de meteoros, explosões vulcânicas ou terremotos, também nada de novo sobre
algum arrebatamento celestial. O homem não terá melhorado muito ou nada, a
nossa condição humana será a mesma de sempre, as necessidades, as fraquezas e a
percepção do mundo, podem até sofrer um leve abalo, mas estarão tão iguais
quanto ao dia anterior.
Continuaremos a ser um país de
extremos e radicalismos, não teremos nos tornado um país ultra liberal
direitista ou comunista, ambos conservadores. Fundamentalistas como von Mises e
Karl Marx continuarão os seus debates e imposições enquanto estabelecem
dialéticas “Sobre a Origem da Desigualdade”. A participação social e política
de nobres e plebeus terá retornado ao seu estado de encolhimento e inércia,
para que aflorem por algum “start” midiático ou no próximo pleito eleitoral.
Os sentimentos da ira social
serão relegados a poucos atores, os demais estarão ocupados em produzir e
consumir, muitos outros, em sobreviver, todos repetindo superficiais frases de
efeito. As lutas como sempre, serão travadas com o ego inflado do poder, por
parte dos vencedores. Com os nervos a flor da pele, pelos ganhadores do segundo
lugar. Estes precisarão de tempo para reorganização, para esquecer. Como
crianças, darão de ombros.
Uma felicidade irônica
tomará conta das ruas, juntamente com a tristeza e uma perturbação quase
histriônica dos que investiram sem chegar. As batalhas não estarão encerradas,
ambos os lados continuarão sendo alimentados com o pão amargo da duvida e da incerteza
coberto com grãozinhos de açúcar. As estratégias de um e de outro não deixarão
de ter fundamentos no submundo dos raciocínios viscerais, antes de atingir a
opinião publica.
A felicidade, feliz cidade,
liberdade, igualdade, direitos, serão sempre metas ilusórias. O poder é uma
necessidade que quase ninguém supera. As massas continuarão sendo escravizadas,
muitos mudarão de lado, trocarão de lugar, mas não perderemos a essência da
massa que somos: crentes, inseguros e manipuláveis.
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quinta-feira, 18 de setembro de 2014
A INVOLUÇÃO DOS BICHOS
A involução dos bichos
Um
texto de Jairo Cerqueira, Salinas das Margaridas, BA
No palco, a serpente pôs-se a
falar e soltar um veneno com odor de néctar para sua plateia. Ao seu lado, havia
dois tigres Dentes de Sabre com garras afiadíssimas. Mas apesar de ferozes e
vorazes, lhes deviam muitos favores, por isso a inevitável reverência.
Lá em baixo podia se ver alguns
lentíssimos elefantes e hipopótamos marcados pelos seus estereótipos de obesidade
e que, abastados e satisfeitos, apenas marcavam presenças sem nenhum
compromisso em se contrapor ao que estava sendo dito. Um pouco atrás, via-se um
bando de carneiros cuja simplicidade no comportamento era apenas uma maneira
sutil de disfarçar a impotência em suas atitudes. Eram extremamente mansos;
cordeiros, na acepção da palavra.
Contava-se também entre eles,
meia dúzia de porcos que rosnavam e fediam, sem sequer se importarem com as
presenças das gazelas, cheirosas e enfeitadas que desfilavam sorrisos
simpáticos e convenientes. Aliás, conveniência era a tônica daquele exercício
de massificação. Burros velhos assentiam
com a cabeça a cada exclamação contida naquela retórica babosa e peçonhenta. Dali
saía uma mescla de palavras chulas e vernáculos que ultrapassavam os limites da
capacidade parca de assimilação do que poderia ser chamado de “Vox Popolis”.
Próximo aos bares, à direita,
marcavam presenças algumas hienas bêbadas, e também, três ou quatro cachorros
pulguentos prontos para lamber as suas bocas; às vezes isso era possível. Ao
lado esquerdo e, para ser justo, também no meio da plateia, alguns símios que
pulavam, gritavam, sorriam, aplaudiam e davam cambalhotas, pois agindo assim,
arrancavam gargalhadas dos desatentos que exerciam seus direitos de ir e vir.
Todos naquele momento estavam
inebriados por aquele hálito venenoso que cheirava a mel. Todos! Exceto a vaca,
que passava cagando e andando para tudo o que ali acontecia.
.
segunda-feira, 8 de setembro de 2014
WEB 2.0 – IV (Relacionamentos)
Quarta impressão - Final da série Web 2.0
— Cara, você já viu como as
pessoas estão presas a tecnologia, tudo refém! Ninguém mais sabe acender um
fogo de carvão, é preciso que se tenha uma churrasqueira turbo-mega-plus-
microssitema-xptod2-trans-computadorizado, com timer automático, resposta de segurança rápida e exclusivo alarme que informa o horário de encerrar o final de semana.
microssitema-xptod2-trans-computadorizado, com timer automático, resposta de segurança rápida e exclusivo alarme que informa o horário de encerrar o final de semana.
— Vixi! Que é isso? Nunca vi um
bicho destes!
— Verdade. Existe!
— Pois é, como se não bastasse
sermos escravos das ideologias, dos dogmas, da politicagem e outras sandices da
civilização... Agora precisamos ser escravos dos aparelhos eletrônicos, dos
manuais multilíngues e da criatividade ofegante.
— Credo, não precisa tanto. O que
você anda lendo?
— Não é caso de leitura, é
observação um tanto complexa de um mundo prolixo. O moto-contínuo inexistente faz de um
tudo para prevalecer, transformando pessoas em autômatos.
— Não vai me dizer que você
acredita nestas porcarias aristotélicas?
— Não acredito, e não é nem por
causa de Aristóteles, mas pelos que vieram depois dele...
— Humm! Não entendi nada, quer dizer que você está estudando filosofia às escondidas? Porra cara, esta valeu meu dia!
— Humm! Não entendi nada, quer dizer que você está estudando filosofia às escondidas? Porra cara, esta valeu meu dia!
— Não se anime muito, estou só
fazendo umas pesquisas e leituras soltas.
— Leituras soltas, rá, rá, rá...
Está gostando? Tá lendo o que?
— Tenho lido um monte de coisas,
comecei acreditando em uma ordenação universal, depois descobri que o universo
é caótico e controverso, o mundo é um embuste, a civilização é uma falácia. Não
há verdade fora da dúvida, e nem sobre isso posso ter certeza.
— Caraca! Que salto! Você saiu do
antes de cristo, indo beber direto nos anticristos...
— Velho, não pira, não bebi nada.
Estou é bastante confuso, mas não sou nenhum anticristo.
— Calma... Não foi o que eu quis
dizer, estava referindo-me aos autores que você parece estar lendo.
— Então deixa pra lá! Melhor que
falemos sobre pessoas e celulares...
— Sendo isso o que você quer,
faço um alerta muito sério... Depois que as dúvidas se instauram, somente com a
fuga da realidade é possível viver no mundo que nos é oferecido.
— Então o mundo é diferente do que eu vejo? Você esta falando em loucura,
esquizofrenia ou o quê?
— Ainda não. Estou falando que é
preciso recriar um mundo onde certas percepções e sentimentos não nos
incomodem. Uma fuga simples para o berço da convivência comum em sociedade. Uma
das saídas é misturar-se a massa em seu delírio compartilhado. O outro modo é ser
o que você está sendo agora... Um corpo estranho, um camelo em meio aos
nelores®. Freud explica!
— Quase entendo o que esta me
dizendo, mas não ajudou muito. Conta logo aí um dos seus casos estranhos sobre
pessoas que só você conhece e não pode dizer o nome.
— Não é bem assim, não preciso
citar nome de ninguém, uma pessoa é sempre muito igual as outras.
— Tá bom, fala aí o que você tem
ob-ser-va-do!
— Certo... Estávamos falando
sobre tecnologia e escravidão social, então comecei a perceber que as pessoas
não se reúnem mais as portas das suas casas para bater papo, trocar receitas e
combinar almoços. Agora o que vemos são pessoas tristes e solitárias,
principalmente os idosos, que se sentam com os celulares ao lado, esperando uma
porra de ligação que nunca chega.
— Só isso?
— Ou então estudantes que vão
para o pátio da escola teclar em seus aparelhos e trocar memes de achincalhe,
muitas vezes de si mesmos, ao invés de estarem falando sobre baboseiras de
adolescentes ou participando de atividades criativas.
— Só isso?
— E as famílias, os casais, os
grupos de amigos, que vão para a pizzaria, ao invés de conversarem entre si,
ficam a trocar mensagens, nunca com outros distantes, mas entre eles mesmos.
— O que há de ruim nisso, as
pessoas não estão se comunicando?
— Você não entendeu? As pessoas
não se encontram mais, os relacionamentos acontecem por redes sociais, e-mails
e chats. As pessoas se contentam com as fotos do almoço, dos netos, do cachorro
novo, da nova tinta da varanda. Ninguém se conhece mais do que pela imagem
plana de um avatar. Ninguém mais tem uma agenda de endereços. Tudo está na
internet, boiando em uma solução invisível de eletromagnetismo aparentemente controlável... E, se esta merda sofrer uma pane geral? Você vai
saber encontrar a casa nova do seu pai?
— Vai ser difícil, tenho umas
fotos da casa e sei em qual bairro fica, mas não tenho o endereço...
— Então, é sobre isso que
estávamos falando anteriormente, vivemos em uma ilusão controlada por nós
mesmos. Acreditamos estar mais próximos das pessoas, enquanto nos isolamos cada
vez mais.
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segunda-feira, 1 de setembro de 2014
WEB 2.0 – III (O outro)
Terceira impressão - Série Web 2.0
— Rapaz! Celular me tira do sério...
— De novo este papo de celular? Vamos virar o disco!
— Qual é? Você é o primeiro a criticar... Agora vem com essa de “virar
o disco”!
— Tá certo, fala aí o que está lhe incomodando.
— Nada demais não... Só que...
— Bora! Desembucha!
— Que porra! Vou falar... Já conversou com alguém que estivesse ouvindo
músicas do celular com um fone nos ouvidos?
— Já! Isso é muito tenso... Mas não é pior que a pessoa atender o
aparelho no silencioso e, sair falando na ligação. Assim, sem mais nem menos,
não pedem nem licença. Pior ainda, quando não estamos olhando para a pessoa,
acreditamos que as falas são para a gente... Desrespeito da porra!
— Então, é disso que estou falando! A porcaria do celular, o mau uso,
está acabando com as relações.
— Velho, você nem acredita, outro dia tava com uma figura lá em casa
fazendo uns negócios, o celular dela toca, ela estica o braço, pega o aparelho
e diz: “Tenho que atender, é a minha avó!”.
— E aí? Parou tudo...
— Parar o que? Eu parei, mas a mina ficou lá, falando ao telefone,
montada, dizendo a sei lá quem, que iria demorar e coisa e tal... Não parou nem um segundo.
— Então foi legal para você!
— Legal como? Mudei de estágio, morri!
— Se lascou! E a mina?
— A miserável, quando largou o telefone, disse: “Ué! Que foi que deu em
você?”.
— Agora com esse negocio de zap zap, então...
— Bora parar... Chega deste assunto! Perdeu a graça.
— KKKKKKK shusksshuasshus!
— KKKKKKK shusksshuasshus!
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