sábado, 29 de dezembro de 2012

A Verdade e o Ovo



A Verdade e o Ovo 
Altair Ramos
Quando nasci, era um ovo. Minha primeira casca ressecou, rachou e quebrou. Todos diziam que era um lindo ovo. Talvez, o mais bonitinho de todos.
Com o passar do tempo, assim como acontecia com todos os outros, nova casca se formava, sequencialmente ela ressecava, rachava, se quebrava, esfarelando-se totalmente.
Assim vivíamos as nossas vidas comuns, de ovos comuns. Sem maiores preocupações, nem mesmo as existenciais.
Éramos perfeitos, bastava que seguíssemos os exemplos e as orientações dos mais velhos, reverenciando sempre, as nossas cascas perdidas. Assim seríamos felizes, viveríamos íntegros, até que a última camada secasse, rachasse e se transformasse em pó.
Contudo, algo me intrigava, eu queria saber por que tínhamos tantas camadas, queria saber como elas envelheciam, queria saber por que a cada troca de camada, ficávamos menores, até desaparecermos.
Queria entender por que não crescíamos, sempre diminuíamos, mas ninguém ousava falar sobre o assunto, coisa que nos era proibido com muita energia e terror desde a nossa mais tenra idade, quando tínhamos bom porte, e éramos suculentos.
Eu, sempre pensava recolhido nos cantos, que nossa existência de ovos, era por demais, miserável. Os por quês, vinham à mente, mas não se transformavam em palavras. Quem sou eu? Um simples ovo não deve questionar as verdades que sempre existiram.
Em meio a este turbilhão mental, chegou a nossa aldeia um viajante, forasteiro, logo, fora interpelado pelas autoridades, pois criou uma grande confusão em um albergue, ao dizer a todos que era um ovo.
Primeiro deram risadas, impossível que fosse um ovo, com tantas características diferentes. Diante da sua insistência e forte discussão indignada, começou uma briga onde o tal “ovo”, como se dizia, sofreu uma rachadura, sendo levado ao hospital, de onde sairia para a cadeia por ter perturbado a ordem.
Esta era a minha deixa, muita coisa poderia ser explicada, pois não era comum sermos visitados por estranhos. Paradoxos estabeleceram-se em minha mente, era necessário falar com este estranho, que entrava em uma aldeia de ovos, dizendo ser um ovo, porém totalmente diferente de nós.
Usando, inteligência, ardis e astúcias, consegui adentrar ao hospital, driblei a segurança e fui ter com o estranho na isolada enfermaria.
O sujeito tinha uma aparência esquisita, sua forma era um pouco parecida com a nossa, seu corpo era branco, possuía uma casca um tanto porosa, do local da rachadura, mesmo com um curativo, escorria um líquido viscoso, meio incolor, meio pálido.
O estranho dormia, acordou quando estava prestes a tocá-lo, assustado pediu que eu não o fizesse, explicando que diferente de nós cebolas, ele era muito frágil, não resistiria a mais ferimentos e sua casca poderia quebrar-se por inteiro.
Fiquei revoltado e disse a ele não tinha o direito de criar tal confusão, somos ovos desde sempre, não uma cebola. Afirmei inclusive não saber o que seria uma cebola. O estranho, muito perplexo, pediu-me paciência e mostrou-me a sua identidade, onde lia-se claramente que ele era um ovo, com pai, mãe e data de nascimento.
Fiquei indignado, o documento poderia muito bem ser uma falsificação, mas algo dentro de mim refutava as especulações.
Perguntei-lhe se era composto por camadas, então ele me explicou que era mole por dentro, quase líquido, falou muitas coisas sobre a minha espécie e sobre a dele, inclusive mostrou-me algumas fotografias de ninhos, galinhas e outros ovos, além de uma revista científica que continha artigos de botânica e zootecnia.
Fiquei estupefato, toda a minha vida passou diante dos meus olhos, questionei a mim mesmo como poderia todos em uma comunidade, manterem-se enganados a vida inteira. Precisando entender mais, fiz sorrateiras visitas diárias ao meu novo amigo, enquanto elaborava um plano para libertá-lo, a fim de fazermos a grande revelação em praça pública. Isso obviamente, nunca aconteceu.
O chefe de polícia acompanhado de policiais, abruptamente entrou no quarto, pouco falou, tomou as fotos e as revistas, fez um fogo, jogou o ovo espatifado em uma chapa onde já agonizava um pedaço de carne, logo em seguida fui jogado em cima do ovo, ralado, picado e fatiado.
Tanta crueldade!... Ninguém jamais conhecerá a verdade, mesmo no frigir dos ovos. Algum dia...

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Aprender e ser



Aprender e ser
Altair Ramos
A capacidade para aprender
É uma benção, uma dádiva
O aprendizado deve ser útil
A mim, aos outros, ao mundo
A licença para ensinar
Exige dedicação, sacerdócio
Educação e compreensão
Deliberação da liberdade
O ouro, a prata
Fascinam ao tilintar
Seus sons temporários
Desgastam-se, acabam
A humanidade, nada é mais eficaz
Que aprendizagem e conhecimento
É preciso mais instrução
Faz-se necessária a imaginação
O lúdico e o natural
Com entrelaçadas mãos
Ao forro do chão, coragem
Cumeeira, é a resignação
Fibra forte e resiliente, sucesso
Igualdade, é somar ao dividir
Muitos precisam de nós
Multiplicando para diminuir
A ignorância é o diabo
Que nos induz e conduz
Para falsas visões no senso comum
Na cegueira enganosa em forma de luz
O grande esplendor
Está em nós mesmos
Somos todos mini deuses
Construindo universos
Conhecer é evoluir
O cérebro crepita
A boca se espanta
O olhar faísca
Nascemos e renascemos
Fazemos o outro nascer
Somos amplos e infinitos

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Quem colocou Deus no real não tinha nada mais importante a fazer?



por Carlos Orsi para Folha
Colocar Deus nas cédulas é errado tanto
quanto transcrever "Vai, Corinthians!"

Entre várias que circularam nos últimos dias, a crítica mais comum ao pedido do Ministério Público Federal para que o real deixe de trazer a frase "Deus seja louvado" é a de que essa solicitação seria "falta do que fazer".
Uma objeção curiosa porque, primeiro, suscita a pergunta: e quando a frase foi incluída no dinheiro, será que ninguém tinha nada mais importante a fazer? (O lema entrou na moeda com o Plano Cruzado, que acabou levando o país à falência, em 1987.)
Em segundo lugar, a alegação de "falta do que fazer", ao esquivar-se do mérito da questão, embute um reconhecimento tácito de derrota.
É como se o crítico dissesse que sim, a frase não deveria estar lá, mas será que não temos erros maiores a corrigir antes?
Só que a presença do lema no real é um erro grave — viola o princípio geral do Estado laico e a letra da Constituição — e relativamente fácil de corrigir. Então, por que não resolvê-lo, logo de uma vez?
Confrontadas com essa sugestão, muitas das pessoas que vinham argumentando que o problema era irrelevante e, portanto, não precisava ser solucionado, repentinamente convertem-se em defensoras ferrenhas da frase. O que indica que a alegação de irrelevância não passava de mera afetação.
Um pouco sobre o laicismo: ele deriva diretamente do princípio da liberdade religiosa: se todo brasileiro é livre para ter a religião que quiser (ou não ter religião nenhuma), então é errado que o governo, que representa e é sustentado pela totalidade dos cidadãos, eleja favoritos.
O artigo 19 da Constituição proíbe o Estado de "subvencionar" cultos religiosos. E usar dinheiro para mandar as pessoas louvarem a Deus me parece um caso claro de subvenção.
Da mesma forma que seria errado, porque discriminatório, o governo pôr "Vai Corinthians" ou "Sempre Flamengo" na moeda, mesmo sendo estas as nossas torcidas majoritárias, é errado fazer isso com "Deus seja louvado", "Deus não seja louvado" ou "Satanás é o senhor". Todas são frases que uma vez sancionadas pelo Estado, alienam e discriminam cidadãos brasileiros.
Há ainda quem tema que, à remoção da frase, sigam-se extinção de feriados e a mudança dos nomes de cidades, como São Paulo.
O temor ignora, porém, que os nomes de cidades seculares têm peso cultural e histórico muito maior que "Deus seja louvado" (lema adotado nos anos 1980). Sobre os feriados, quantos mantêm caráter, de fato, religioso? O coelhinho da Páscoa e Papai Noel, por exemplo, não têm culto, exceto nas lojas de chocolate ou de brinquedos.
Há ainda a objeção de que "o Estado é laico, mas não ateu". Sim, o Estado não é ateu! Só que ninguém exige que o real passe a dizer "Deus não existe", mas apenas que o dinheiro pare de falar de Deus e ponto. Confunde-se neutralidade com oposição, o que é tolice ou má-fé.
O medo de que a frase desapareça do real reflete, no fim, uma ótica de disputa de prestígio: nesse enfoque, se "Deus seja louvado" sair do dinheiro, isso significará que "os ateus estão mais fortes", ou que o sentimento religioso perdeu relevância na sociedade, o que algumas pessoas consideram intolerável.
É uma interpretação míope. Há muitos religiosos que consideram a frase inadequada, seja por respeito ao caráter laico do Estado, seja por acreditar que o vil metal, causa de tantos crimes e pecados, é indigno do nome do ser supremo.
Se realmente há algum "prestígio" em jogo, certamente não é o do suposto criador, mas apenas o que alimenta a vaidade de alguns de seus autoproclamados representantes aqui na Terra.

Leia mais em http://www.paulopes.com.br 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Dia das Crianças 2012



O PASSALINHO
Altair Ramos

“Passalinho” no quintal
Bica aqui, bica acolá
Num tiu-tiu-tiu
Num piu-piu-piu
Que nunca vai “palá”!

Painho, tem um “voa-voa”
No quintal fazendo assim
Tiu-tiu-tiu, piu-piu-piu
Papai, o ”patainho”
Não “pala” de bicar!

Mainha o “pataliu”
Bica no chão e faz tiu-tiu
Mas não é muito feio
Comer de lá “plá” cá
Cantar de boca cheia?

Tiu-tiu-tiu, piu-piu-piu
O “passainho” no quintal
Não “pala” de cantar
Mas quando chego perto
Ele só sabe se assustar...

Tiu-tiu-tiu, passarinho
Volta aqui meu bonitinho
Tiu-tiu-tiu, seu danadinho
Eu só quero conversar
“Cliança” não pode voar!
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