O circo chegou, o ruído
estridente saía de um alto-falante zuadento que tocava repetidamente aquele
clássico: ta-na-na-na-na-na-na,
ta-na-na-na-na-na-na, carregado por um DKV caindo aos pedaços, com aquele
barulho infernal saindo do motor, tipo ferro batendo e explosões fora de tempo,
coisa que somente quem já viajou em um carro destes ou viu algum em circulação
pode entender. O carro velho estava todo recoberto por enormes balões coloridos
e listrados, com uns palhaços dentro e um sujeito muito magro de maiô em cima
do capô, visão suficientemente necessária para desobrigar muita gente de querer
ir ao espetáculo.
Estávamos ali em frente
ao supermercado Nishida sentados à toa, sem fazer nada, a não ser criar
histórias sobre as pessoas que passavam, éramos bons nisso, hoje penso que eu
era bem melhor que os outros dois, pois sempre se riam muito ou ficavam
apavorados quando eu traçava os perfis dos transeuntes - estivesse na Bahia,
certamente ouviria algo do tipo, Deus é mais - inclusive detalhando situações
da vida pessoal e do ambiente doméstico do passante desconhecido que ignorava a
nossa existência. Lógico, os outros também faziam graça, mas não entravam em
detalhes, digamos assim... mais íntimos. De qualquer forma, nos divertíamos a
baixo custo explorando a aparência dos alheios.
Quebrando a
monotonia, um alarido vinha da rua lateral ao supermercado, engarrafando o
trânsito sem ninguém... continue lendo
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