domingo, 26 de fevereiro de 2017

O Circo Chegou



O circo chegou, o ruído estridente saía de um alto-falante zuadento que tocava repetidamente aquele clássico: ta-na-na-na-na-na-na, ta-na-na-na-na-na-na, carregado por um DKV caindo aos pedaços, com aquele barulho infernal saindo do motor, tipo ferro batendo e explosões fora de tempo, coisa que somente quem já viajou em um carro destes ou viu algum em circulação pode entender. O carro velho estava todo recoberto por enormes balões coloridos e listrados, com uns palhaços dentro e um sujeito muito magro de maiô em cima do capô, visão suficientemente necessária para desobrigar muita gente de querer ir ao espetáculo.
Estávamos ali em frente ao supermercado Nishida sentados à toa, sem fazer nada, a não ser criar histórias sobre as pessoas que passavam, éramos bons nisso, hoje penso que eu era bem melhor que os outros dois, pois sempre se riam muito ou ficavam apavorados quando eu traçava os perfis dos transeuntes - estivesse na Bahia, certamente ouviria algo do tipo, Deus é mais - inclusive detalhando situações da vida pessoal e do ambiente doméstico do passante desconhecido que ignorava a nossa existência. Lógico, os outros também faziam graça, mas não entravam em detalhes, digamos assim... mais íntimos. De qualquer forma, nos divertíamos a baixo custo explorando a aparência dos alheios.
Quebrando a monotonia, um alarido vinha da rua lateral ao supermercado, engarrafando o trânsito sem ninguém... continue lendo

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