segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Preconceitos

Sim, estou sem tempo para postar, então encontrei este texto interessante sobre o preconceito e resolvi trazê-lo para cá, uma vez que é novembro e temas raciais entram em um tipo de órbita de discussões e debates, carregando em seu corpo e cauda temas frequentes sobre os mais diversos tipos de preconceitos e intolerâncias, quais somos algozes e vítimas. Quem nunca ridicularizou, inferiorizou, ou desqualificou alguém, que nos mostre o caminho das pedras.  Altair Ramos


Preconceito dói, cabra da peste!


Publicado em 05.11.2010, no JC Online Por Miguel Rios

Preconceito é difícil de sair da gente. Volta e meia, a gente se surpreende, se flagra, e até se orgulha, dizendo, pensando, compartilhando algum estigma contra o outro.

Uma nova vilã, daquelas malvadas ao extremo, que dissemina e atrai ódio, de nível igual ou pior que qualquer Odete Roitman ou Nazaré Tedesco, está na mídia. É aquela garota lá do Twitter que nos ofendeu, nós nordestinos, nos indignou mais uma vez, nos fez relembrar preconceitos que pareciam estar se esvaindo, que se mostram ainda vigorosos, que machucam mesmo quem finge não ligar, quem tenta se mostrar acima.

Outra vez, doeu. Outra vez, ele voltou. Aliás, nunca se foi. Só estava mais quieto, nestes tempos de maior patrulha, de menos tolerância com os intolerantes.

Preconceito é difícil de sair da gente. Volta e meia, a gente se surpreende, se flagra, e até se orgulha, dizendo, pensando, compartilhando algum estigma contra o outro.

Mas se é na nossa pele que arde aí nos enfurece. Não pode, não se aceita, é absurdo, é opressor, ultrapassado, injusto.

A pele dos nordestinos queimou. Estigmas e estereótipos queimam mesmo.

A pele de qualquer tuiteiro do Maranhão à Bahia ainda está, no mínimo, coçando. Tem aquele cara que posta dia após dia, insistente, resistente, mensagens contra a autora do ataque, sedento por não deixar barato.
"Como posso ser inferior?", pensa ele. "Sou inteligente, universitário, bonito, uso roupa boa, dentição completa, tenho laptop, carro, amigos no exterior, viajado, falo inglês, comecei no espanhol, já planejo meu MBA. Vou ter sucesso garantido! Como se pode dizer que sou inferior? Como se eu fosse um pobre qualquer, um mundiça desses, pipoca da vida, um beira-canal, que só serve para se apertar em ônibus, sujar a praia. Esse bando de assalariado farofa..."

E a roda do preconceito gira:
"Como posso ser farofa?", pensa um dos assalariados. "Ando de ônibus, moro em subúrbio, mas curto bandas legais, livros legais, filmes de arte. Tenho amigos descolados. Somos questionadores do status quo, dos padrões impostos pela sociedade de consumo. Tenho potencial. Farofa eu? Farofa e pipoca é essa negada ignorante, de gosto ruim, que curte pagode e axé, jeito marginal, enchendo o mundo com som alto de funk de CD pirata. Tenha dó!"

E gira...
"Sou negro sim, mas sou lindo! Curto o meu som e meu jeito moleque. Orgulho de raça, de gostar do que eu gosto, das raízes, de saber dançar melhor que branco. De morar onde moro. De me virar e arranjar algum para meu pai e minha mãe. Eles dois que me criaram com esforço e dignidade. Me fizeram um homem, homem mesmo. Se eu ainda fosse um desses veados safados podiam até falar. Aquilo é que é nojeira. Mas eu não tenho do que me envergonhar."

"Sexualidade não define caráter. O que eu faço na intimidade não é da conta de ninguém. Sou decente. Sou homem igual a qualquer outro. Ninguém se envergonha de estar ao meu lado. Sou másculo, não dou pinta, tenho um namorado sem trejeitos também. Não escandalizamos. Podemos frequentar qualquer ambiente. O problema são essas bichinhas afetadas, estes travestis que sujam a barra dos gays. Um horror."

Continua a girar:
"Se dou pinta é porque eu quero. Essa tropa enrustida de metidos a macho fala mal, mas faz as mesmas coisas que eu entre quatro paredes. E tem inveja do meu sucesso. Tenho jeans Diesel, perfumes Armani, óculos Roberto Cavalli. Até minhas sandálias de praia são de grife. Por isso, não me junto. Morram de inveja, bichas pobres, roupa de sulanca, classe D!"

E a roda vai girando, criando novos julgamentos, batendo neste e naquele, se aproveitando de ideias preconcebidas, crendices, rancores...

Você já teve um dia em que se assemelhou à vilã lá do Twitter, aquela babaca, estúpida, condenável, que te revoltou tanto quando jogou o ácido supercorrosivo do preconceito sobre seu orgulho? Você já destilou desprezo sobre alguém? Eu já.

Pense na fulana do Twitter, pense na queimadura, pense em como dói, pense em como cicatriza demorado.

Pense nela antes de carimbar, com raiva, agressão e afinco, loura de burra, rapaz rico de playboyzinho, negro de maloqueiro, gay de molestador devasso, gostosa de piranha, pobre de ignorante, sertanejo de atrasado, gente da capital de pedante.

Pense bem quando tua veia discriminatória, aquela que pulsa toda vez que vem o desejo de diminuir o outro pela ilusão de se auto fortalecer, saltar.
Clique na imagem para ampliar

3 comentários:

  1. Preconceito, discriminação... quem sabe? Hoje postei no meu blog notícia sobre a entrevista que o Presidente Lula dará amanhã no Planalto a 10 blogueiros. Como foram escolhidos estes 10? Pelo que li em alguns blogs, os organizadores do Encontro de Blogueiros que aconteceu em agosto último selecionou quem ia... e são os representantes de blogs maiores, com mais audiência. A gente fala tanto em democratização da mídia... você falou aqui de preconceito, discriminação... A Blogosfera precisa ficar atenta pra não reproduzir aquilo que critica na mídia tradicional...

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  2. Oi!
    Depois de um bom tempo reabri meu blog e vim aqui matar saudades e ler vc!
    Não li vc neste último post....rs
    Nosso inimigo: o tempo que voa....rs

    Muito legal o texto. Preconceito é uma praga. O dia que o ser humano perceber que ele vale tanto quanto qualquer outra vida teremos atingido o NIRVANA....rs

    Espero vc no meu blog.
    Super beijo....bom voltar!

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  3. Bom texto, Altair. Descriminação realmente não está com nada. Feliz Ano Novo a você e a seus leitores.

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