A greve da força policial na Bahia é uma opção danosa para a
sociedade, coloca em risco o patrimônio público e privado, põe em risco
as pessoas que por algum motivo, se reconhecem como pessoas comuns,
embora a minha percepção não consiga vislumbrar quem seja comum ou
incomum, possa ser que exista alguma explicação freudiana ou kafkaniana
sobre o assunto.
Mas isto não importa, as pessoas não
estão muito incomodadas com a questão salarial da PM, estão incomodadas
com a quebra das suas rotinas, algumas sentindo falta do ar frio e
bacteriano dos escritórios, dos engarrafamentos e do pão abaixo do peso
na padaria da esquina. O direito particular de ir e vir esta sendo
conspurcado devido falta de “consciência” de uma categoria “essencial’
ao controle da ordem social, que reivindica melhores condições de
trabalho e vida.
A impressão que se tem, é que antes deste
movimento grevista ocorrer, não existiam barbaridades e violências
domésticas ou urbanas, com crimes hediondos e atrozes, tudo começou com a
deflagração da paralização. Tais fatos, demonstram a cada cidadão a
importância das forças de segurança pública. Com elas é ruim, sem elas é
pior. Então cada qual deve desgarrar-se dos seus interesses
momentaneamente, passando a apoiar o movimento para que tudo seja
reestabelecido e as rotinas retornem ao tradicional.
Qualquer
greve pode ser considerada crime, de acordo com ponto de vista jurídico
e princípios legais, sem que esqueçamos, os interesses do estado. Ao
mesmo tempo, os salários podem ser legais, por estarem determinados e
registrados em algum papiro com a chancela do estado, mas será sempre
imoral, quando não atende necessidades básicas e interesses do
trabalhador, inclusive o policial, sendo este, o ponto de vista humano e
social.
Direitos de cada um e direitos humanos
resguardados ou não, e desconsiderando a desigualdade das forças, quando
ocorre uma mobilização de estudantes, estes quebram vidraças, depredam
estátuas, sendo sempre, obra de algum exaltado, baderneiro ou
infiltrado, que ao agir elimina o elemento pacífico da mobilização,
surge o confronto, mas somente a polícia é truculenta. Se uma comunidade
resolve bloquear uma via pública, por qualquer reivindicação, a polícia
tenta impedir a ocorrência ou negociar uma abertura para o tráfego,
iniciam-se reciprocidades de ofensas, mas somente a polícia é
truculenta.
Agir com brutalidade, contra cidadãos
desarmados e indefesos, é crime de responsabilidade dos comandos.
Infelizmente a força policial não é preparada para o diálogo, para o
meio-termo. O cidadão, a comunidade, concordam ou não, conforme as
próprias necessidades e interesses. Permanecemos quietos, expomos a
nossa indignação reproduzindo jargões de apresentadores jornalísticos da
TV: “Um absurdo!”, “Isto é uma vergonha!
Se existe
mobilização, inexiste satisfação. Tal insatisfação ao ser exposta, será
sempre contrária as regras escritas, as leis, sempre estará desacatando o
estado, que imediatamente, considera a mais simples mobilização,
imoral, ilegal ou criminosa. Com isto toda a comunidade diz amém,
concorda que os mobilizados sejam criminosos, e dizem repletos de razão:
- “Mas é preciso cumprir a lei.” – Quando então, me surgem perguntas:
1. Por quê é lei, é justa? 2. Por quê é lei, todos são contemplados? 3.
Por quê é lei, não pode ser modificada?
Devido a um vício
do estado, que trabalha a partir de princípios positivistas e liberais,
quando não absolutistas, o policial aprende a ser opressor em nome do
estado, com a finalidade de manter a ordem e o progresso, permitindo a
cada cidadão, “liberdade” para desfrutar dos seus direitos e fazer a sua
parte no intrincado quadro social. Aos sujeitos que não se enquadram,
bastam algumas palavras de ordens e um “start” do comando para que estes
mesmos policiais desencadeiem ação furiosa, contra irmãos que sentem os
mesmos problemas que eles, mesmo assim, estão cumprindo ordens legais.
Observemos
que ao tentarmos defender direitos, ou cobrá-los, somos sempre
violentos, basta que se esgotem as alternativas de diálogo e acordo. Foi
inclusive por este tipo de comportamento que Trotsky tornou-se inimigo
mortal de Stalin. Reclamar que manifestantes estão portando armas e
expondo-as, é mais do que necessário, pois é ato de grande
irresponsabilidade, falta de estrutura do comando grevista que não é
hábil o suficiente para controlar a ira, a indignação e revolta
reprimidas dos seus associados.
Vai além do estrutural, a
forma como estes homens e mulheres se comportam, são treinados para
cumprir ordens dentro de uma hierarquia. Observemos as abelhas, ao
perderem a sua rainha, desorientam-se, descontrola-se, morrem. Quer
dizer, ao sentirem-se fora da tutela do próprio comando e do estado,
aterrorizam-se, pois descobrem que estão por conta própria. A partir
deste ponto, os sentimentos represados de opressão e as carências
cotidianas, extravasam-se neste lapso de liberdade.
Temos
direito a proteção plena do estado, qual tem o dever de fomentar e
manter políticas que satisfaçam as necessidades essenciais de cada um de
nós. Se existem movimentos em luta, é porque o estado não esta
cumprindo com o seu papel, e toda a responsabilidade deve ser
direcionada ao estado. O governo por sua vez, falha em não ser capaz de
negociar com o comando grevista, que visivelmente, tem a missão
acortinada de promover a desestabilização política e enfraquece-lo
moralmente diante da população.
O policial militar é
trabalhador, assim como outro qualquer, a população precisa de paz, cabe
inteiramente ao estado a finalização da pendenga, com um acordo que
satisfaça minimamente os anseios da categoria. É preciso também que
estes profissionais sejam incluídos em programas de valorização,
precisamos de uma Polícia Militar mais humana.
Muito bom seu texto, PARABÉNS. Quero saber se posso reproduzi-lo no meu blog, com os devidos créditos é claro?!
ResponderExcluirOk, amigão esteja a vontade, depois é só passar o link para que eu também compartilhe. Sucesso.
ExcluirObrigado Almirante! fiquei muito feliz por vc ter permitido a publicação...de fato, eu gostei muito do seu texto, pois ele retrata um pensamento do qual eu também compartilho.
ResponderExcluirDemorei um pouco para repostá-lo porque estava ocupado com outras coisas, mas hoje resolvi postar o seu texto no meu blog...depois dá uma conferida lá:
http://serfelizeserlivre.blogspot.com/2012/03/opiniao-greve-policia-militar-e.html
Abraços e PARABÉNS mais uma vez!