A involução dos bichos
Um
texto de Jairo Cerqueira, Salinas das Margaridas, BA
No palco, a serpente pôs-se a
falar e soltar um veneno com odor de néctar para sua plateia. Ao seu lado, havia
dois tigres Dentes de Sabre com garras afiadíssimas. Mas apesar de ferozes e
vorazes, lhes deviam muitos favores, por isso a inevitável reverência.
Lá em baixo podia se ver alguns
lentíssimos elefantes e hipopótamos marcados pelos seus estereótipos de obesidade
e que, abastados e satisfeitos, apenas marcavam presenças sem nenhum
compromisso em se contrapor ao que estava sendo dito. Um pouco atrás, via-se um
bando de carneiros cuja simplicidade no comportamento era apenas uma maneira
sutil de disfarçar a impotência em suas atitudes. Eram extremamente mansos;
cordeiros, na acepção da palavra.
Contava-se também entre eles,
meia dúzia de porcos que rosnavam e fediam, sem sequer se importarem com as
presenças das gazelas, cheirosas e enfeitadas que desfilavam sorrisos
simpáticos e convenientes. Aliás, conveniência era a tônica daquele exercício
de massificação. Burros velhos assentiam
com a cabeça a cada exclamação contida naquela retórica babosa e peçonhenta. Dali
saía uma mescla de palavras chulas e vernáculos que ultrapassavam os limites da
capacidade parca de assimilação do que poderia ser chamado de “Vox Popolis”.
Próximo aos bares, à direita,
marcavam presenças algumas hienas bêbadas, e também, três ou quatro cachorros
pulguentos prontos para lamber as suas bocas; às vezes isso era possível. Ao
lado esquerdo e, para ser justo, também no meio da plateia, alguns símios que
pulavam, gritavam, sorriam, aplaudiam e davam cambalhotas, pois agindo assim,
arrancavam gargalhadas dos desatentos que exerciam seus direitos de ir e vir.
Todos naquele momento estavam
inebriados por aquele hálito venenoso que cheirava a mel. Todos! Exceto a vaca,
que passava cagando e andando para tudo o que ali acontecia.
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Na falta do que dizer... brinca-se. rsss U abraço!
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