sábado, 23 de novembro de 2013

Qual a Cor?

 Altair Ramos

Existe alguma cor
É miragem
É ilusão de ótica
É um conceito
Ou preconceito

Qual a cor
Do incolor
Do primarismo
Do vermelho
Do Amarelo
Do Azul

Qual a cor
Do meu pai
Da minha mãe
Dos ancestrais
Do meu irmão

Qual a cor
Por baixo da minha pele
Soro
Plaquetas
Sangue

O que não se apresenta
Sob a luz das aparências
Protege umas verdades
Numa luta persistente
Pouco a pouco revelada
Na evolução e nas ciências

Com o advento do genoma
DNA da mitocôndria
Releitura secular
Nova história a contar
A cor da pele variada
É a gênese geográfica
A abertura dos mapas
O espírito curioso
Descobrindo novas terras
Ocupando e possuindo
Inventando a propriedade
Trabalho e sociedade

Não me meças por favor
Pela cor da minha cor
Esta nossa aparência
Não carimba o caráter
Não traduz capacidades
Não pressupõe dignidade

Qual a cor
Do amor
Da vontade
Da nobreza
Da liberdade
Da humanidade?

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

sábado, 5 de outubro de 2013

A Ciência Salvou a Minha Alma - (DUBLADO)

Sim!... Senhor Universo... é mais certo que ele possa nos dar respostas. Porém as boas perguntas somente são possíveis com a liberdade da imaginação. A perfeição intransigente é uma ilusão, pode até mesmo o caos não existir, pois o nosso desejo em criar perfeições pode estar a encobrir o que de fato seja perfeito.

. .

domingo, 23 de junho de 2013

Revolução: A primavera chegou?


Revolução: A primavera chegou?
Altair Ramos
A juventude está nas ruas em um movimento inquestionável pela mudança. Alguns eufóricos dizem que o Brasil acordou, mais ainda não. O despertar da Primavera Brasileira se assemelha mais ao sono daquele adolescente ou trabalhador que pretende ficar mais cinco minutos na cama antes de irem para a aula ou para o trabalho. A revolução de fato, precisa de mais tempo, ou seja, precisa de experiência e organização para ser profícua.
Os políticos profissionais e a grande imprensa não entendem bem o que esta acontecendo, os primeiros fazem-se de desentendidos, não acreditam ou não admitem que as massas possam organizar-se longe dos seus proclames, longe das pautas elaboradas nos bunkers partidários, pois estão muito acostumados com as pautas manipulativas. As organizações políticas perderam esta rodada (risos).
A imprensa, entendamos como tal toda a mass media, não sabe onde se posicionar, não sabe se defende ou se ataca, fazem editoriais jocosos, proclamando direitos kantianos ou defendendo a paz e o patrimônio público em nome de uma democracia descalcificada. O que não traz para si créditos maiores do que já desfrutavam anteriormente.
A revolta dos R$ 0,20, o movimento passe livre, acabou quando o aumento do preço das passagens foi revogado, porém a revolta não cessa aí, a luta é motivada principalmente pelo descaso do Estado e pela indignação que sente o cidadão ao observar os trilhões, nos leds que não param de piscar no painel do impostômetro, enquanto caminha em direção aos serviços essenciais que o governo garante existirem nos postos médicos e outros serviços públicos.
Um dos fatores que alavancam as mobilizações populares pelo país é o sentimento de incapacidade em ser atendido, somos ouvidos, mas não escutados, isso porque a democracia impõe liberdade de expressão, mas é só isso mesmo. Aqueles que deveriam traduzir as necessidades e anseios da população para os campos do executivo e legislativo produzindo ações concretas, não podem fazer tal tradução, pois falam outra língua ou fingem não compreenderem o que o povo quer.
As palavras em um discurso político, quase nunca significam o que estamos ouvindo, estão sempre carregadas de sentidos dúbios, mensagens indiretas e subliminares, com recados claros e bem direcionados nas entrelinhas.  O discurso é sempre uma armação pirotécnica, escondendo os verdadeiros objetivos: o poder político e o status de poder. Isto cansa, e este cansaço é que está colocando as pessoas nas ruas. Terá o grito da multidão, menor valor que as falas planejadas daqueles que se dizem nossos representantes?

Ideias conservadoras, ultraconservadoras, anarquistas, e outras, estão há muito, sendo injetadas nas mentes  inteligentes da população, sendo utilizadas palavras chaves tipo: ética, corrupção, direitos, democracia, etc. Com isso, finge-se pregar a liberdade, a expansão dos direitos, mas no pano de fundo o que há são joguetes políticos que tentam estigmatizar e mistificar algumas ideologias, enquanto implodem com outras.
Numa época em que vivemos a desestrutura das ideologias, tanto no meio popular como no meio político, nada mais coerente que uma mobilização nacional sem partidarismos, onde o que prevalece é a vontade do “EU”.  Isto porque, infelizmente, a experiência militante perdeu-se na história por meio da representatividade ruim e no individualismo do capital e do consumo, que desestimulam a participação popular nos projetos da coletividade.
Tudo isso, implica num primeiro momento, que o cidadão revoltado extravase a mágoa contida transformando-a em ira. Com isso, o desequilíbrio mental, faz com que fique parecido a um desordeiro, um vândalo, principalmente pela falta de lideranças, que certamente nascerão destes eventos. Porém uma pergunta é iminente, alguém já viu ou ouviu falar em levante popular, sem lesões, sem danos? Os manifestantes não reivindicam por reformas, clamam por transformações políticas abrangentes.
É preciso sim, ter pauta e planejamento, é preciso que hajam lideranças, é preciso que a diversidade das massas dialogue para encontrar os objetivos comuns que alicerce uma pauta próxima da hegemonia. O povo vem sofrendo inerte há muito tempo, não podemos perder o momento, oportunistas estão a postos, aguardando que a voz das massas fique rouca, para depois falarem outra coisa em nosso nome. Cuidemos, pois o grito por direitos pode tornar-se em silêncio compulsório.

Imagens do Google

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Um Brasil de Trabalhadores




Um Brasil de Trabalhadores*
por Altair Ramos
"Se você fabrica miséria, você e seus
filhos serão engolidos pelos miseráveis."
(Wilson Aragão, poeta, cantor e compositor)

O Brasil que pretendemos para o século XXI ainda esta muito difícil de acontecer neste século, pior é ter a certeza cruel de que as mudanças esperadas, quando ocorrerem, o século certamente será outro; o que continuará nos mantendo no atraso. Exemplo disso é a falta de atenção com o trabalhador, relacionada principalmente com as condições ambientais, de segurança, saúde e qualidade de vida.

Historicamente, a humanidade lutou, muita gente se doou, muitos encontraram a morte ao esforçarem-se para acabar com a escravidão, com as explorações do sistema feudal, com as degradantes condições de trabalho em jornadas penosas e debilitantes. Grandes avanços foram conquistados, porém os trabalhadores não desfrutam ainda, as graças da liberdade e da igualdade.

A desatenção com a classe trabalhadora passa pelos propósitos do capital e pela ganância, pior ainda, passa pela desatenção das políticas públicas. Quando existem, são objetos retóricos carregados de demagogia, o que podemos identificar como politicagem. O povo brasileiro vive a se gloriar por ter a melhor legislação do mundo em diversas áreas, sendo continuamente atualizada e primando pelas padronizações globais, o que permite ser bem aceita pelas organizações internacionais.

Os programas de segurança e saúde, adotados pela maioria das empresas, são compostos por documentos de fachada, recheados por burocracias e enganações. É comum as empresas adotarem princípios e regras de prevenção de acidentes, somente porque os níveis de exposição aos riscos são altos, podendo afetar a integridade física e mental do trabalhador, em repetidos casos, de maneiras irreversíveis. Outras adotam tais medidas porque o tomador de serviços faz as exigências em cláusulas contratuais, ou seja, não estão protegendo os trabalhadores, estão protegendo o mercado e as finanças.

Os órgãos de segurança do trabalho dentro de muitas empresas funcionam apenas para o cumprimento de requisitos legais e administrativos, realizando o mínimo do mínimo. Engenheiros de segurança do trabalho são deslocados para atuar em programas de qualidade, desviam ou acumulam suas funções nos setores administrativos e operacionais. Já testemunhei caso de engenheiro, chefe do setor, não conhecer as instalações da fábrica onde supostamente atuava ou os riscos a que os trabalhadores se expunham. Como pode profissional deste naipe, realizar algo a favor do trabalhador?

Entre os médicos do trabalho, inúmeros são de péssimo caráter, sem qualquer ética profissional, atuam a anos-luz de distância, daquilo que assumiram quando fizeram juramento profissional, realizando a produção em série de ASO - Atestado de Saúde Ocupacional. Difícil entender como é possível realizar mais de duzentas anamneses em menos de três horas de trabalho. Estes super doutores trabalham muito aquém do mínimo necessário, ceifadores de vidas, em nada se preocupam com a vida humana, com os limites laborais de cada indivíduo.

Técnicos em segurança do trabalho e técnicos em enfermagem do trabalho, por muitos, considerados anjos de guarda dos trabalhadores, vivem em uma corda bamba entre o bem e o mal. São vítimas e algozes de um sistema cruel, marcados por baixos salários e desemprego certo, caso não dancem conforme a música do patrão. Muitos são meros capatazes e capitães do mato, nas senzalas modernas, onde a escravidão institucionalizada mescla-se com o descrédito e a falta de interesse dos trabalhadores nas associações de classes e sindicatos, com a falta de fiscalização, e com a gigantesca necessidade de se manterem no emprego, apesar das péssimas condições ambientais e humanas.

Os empregadores precisam considerar que as melhorias ambientais, a prevenção de acidentes e capacitação dos trabalhadores, assim como o controle médico da saúde da população laboral, são investimentos e não despesas. Estes auferem lucros altíssimos, muitos são beneficiados com isenções tributárias e contribuem muito pouco para a qualidade de vida dos seus funcionários. Muitos acreditam que formar e capacitar o trabalhador seja “criar e alimentar leões”.

Uma enorme decepção e cruel desilusão acompanham a mim e outros milhares de trabalhadores, cidadãos brasileiros, porque não visualizamos motivos para alegrias e comemorações desenvolvimentistas. Ao compararmos os textos legais com a realidade predominante nos postos de trabalho, descortinamos o abuso de poder, o assédio moral, o subemprego e muitas outras injustiças, cujos sentimentos represados em nome da sobrevivência, acabam por fomentar as estatísticas da violência doméstica e urbana.

Desconsiderando inúmeros outros aspectos, entre eles, os trabalhistas e os de relacionamento, é de grande importância que políticos e governantes dispensem mais atenção para as questões de segurança e saúde do trabalhador. É imprescindível que os órgãos fiscalizadores atuem fisicamente nas empresas, que não fiquem atrelados aos escritórios das superintendências por força dos cortes orçamentários, aguardando denúncias que não chegam porque o trabalhador não sente proteção quanto as possíveis e prováveis retaliações.

O simples esboço aqui apontado sobre a questão da segurança e saúde do trabalhador e a prevenção de acidentes, serve somente para sinalizar aos políticos, empresários e trabalhadores em geral, que é preciso ampliar a fiscalização, faz-se necessário que os fiscais adentrem as empresas e conheçam a realidade por detrás dos programas, dos relatórios e das estatísticas empresariais.

O mundo empresarial e os sistemas econômicos predatórios são diretamente beneficiados com a qualidade ruim do sistema educacional do nosso país, que promove a formação de uma massa de ignorantes, desinteressada da participação política, pronta para sustentar com as forças dos próprios braços, a fantástica pirâmide do projeto capitalista.
* Publicado no livro: "Carta ao Presidente - Brasileiros em busca da cidadania" - Ómnira, 2012
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segunda-feira, 18 de março de 2013

Brasil: Estamos sem voz!

Brasil: Estamos sem voz!
Por Altair Ramos
A comunidade política existe num nível que não é idêntico à realidade das pessoas. Não se pretende aqui, tratar de ideologias políticas, partidárias ou místicas, o único interesse é fazer uma crítica à inércia e a falta de competência do cidadão que não é capaz ou é impedido de ser e sentir-se parte da engrenagem que chamamos cidade, sociedade, como sujeito opinativo, criativo e participativo, que deveria ser estimulado e respeitado enquanto cidadão. No entanto o corporativismo político encabresta cada vez mais os desejos e as ações do homem justo.
Quem espera por uma República Militar, está no mesmo patamar daqueles que querem um Brasil Monárquico. Estão atrás de um retrocesso político. Não é um governo militar que irá melhorar o país ou um rei que irá acabar com a corrupção e o mau caratismo político.
O Brasil precisa de uma reforma ampla, profunda e corajosa no sistema político e econômico, que pode ser realizada por qualquer liderança política. Precisamos de justiça para os justos, de leis que protejam o cidadão e o estado, garantindo os direitos essenciais que permitam ao povo viver uma democracia de fato. A voz do povo deve ter valor. Ditadura já existe, mudar de sistema significa apenas mais burocracia e mudança de postos, troca de cadeiras. Seis por meia dúzia, fica como está.
As coisas não estão boas, são muitas incertezas, muitas teorias e ideologias pipocando e confundindo as pessoas, democracia, teocracia, jesuscracia, militarismo, comunismo, parlamentarismo, seja qual for o modelo, todos pretendem quebrar a constituição, quebrar as liberdades e os direitos do povo. Uns sutilmente, outros sem o menor escrúpulo, em favor de méritos privados e pessoais, que podem ser negociados livremente no mercado das preferencias corporativistas.
A população precisa ser ouvida e atendida, a democracia, o governo do povo pelo povo, está cada vez mais degradado, um lixo. A vontade do povo não prevalece nem influencia as tomadas de decisão em nosso país, basta observar os fatos que ocorrem nas casas legislativas, para se verificar os níveis da qualidade e reconhecimento aplicados aos interesses populares.

quarta-feira, 13 de março de 2013

La Educación Prohibida - Completa HD - Leg. Port

Documentário produzido colaborativamente na Ibero-América que questiona todo as bases e os métodos da educação ocidental, baseada essencialmente em um sistema competitivo de qualificações. Mais informações no site oficial e no post do BaixaCultura sobre o filme.

“A Educação Proibida é um documentário que se propõe a questionar as lógicas da escolarização moderna e a forma de entender a educação, mostrando diferentes experiências educativas, não convencionais que propõem a necessidade de um novo modelo educativo.

A Educação Proibida é um projeto realizado por jovens que partiram da visão de quem aprende e que embarcaram numa pesquisa que cobre 8 países realizando entrevistas com mais de 90 educadores de propostas educativas alternativas. O filme foi financiado coletivamente graças a centenas de co-produtores e tem licenças livres que permitem e incentivam sua cópia e reprodução.

A Educação Proibida se propõe alimentar e lançar um debate de reflexão social sobre as bases que sustentam a escola, promovendo o desenvolvimento de uma educação integral centrada no amor, no respeito, na liberdade e na aprendizagem.”

Não deixe de ler:
"A má educação"

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Documentário Além do Ateu e do Ateísmo



O ateu não é uma pessoa má e o ateísmo não é um bicho de sete cabeças
Este documentário traz seis entrevistados que abordam o assunto e falam sobre o preconceito que os ateus e o ateísmo sofrem. Porque o ateísmo é tão polêmico? Porque muitos tratam os ateus como pessoas ruins? Além do Ateu e do Ateísmo traz o ateísmo à superfície e joga as cartas para o assunto ser debatido, mostrando que o ser humano deve e tem o direito de pensar livremente e de forme racional.

Ateus não são pessoas más, e o ateísmo não é ruim para a sociedade.
Seis pessoas, ateus ou não, falam sobre ateísmo, preconceito, moral, família e como lidar com o assunto. Além do Ateu e do Ateísmo traz à superfície um assunto polêmico com o intuito de abrir espaço para a discussão do tema e para mostrar que todo ser humano tem direito ao livre pensamento e escolha.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Revista Artpoesia edição 103


Gilka Machado (Rio de Janeiro, 1893-Rio de Janeiro, 1980) tinha sangue de artista nas veias: a mãe, Thereza Christina Moniz da Costa, era atriz de teatro e de rádio-teatro; e a filha, Heros, seria bailarina consagrada e pesquisadora das danças nativas brasileiras. Além disso, sua família incluía poetas e músicos famosos. E a moça se casa com um artista: o poeta, jornalista e crítico de arte Rodolfo Machado, em 1910, que morreria dali a 13 anos, deixando a esposa com dois filhos, Heros e Hélios. Leia mais sobre Gilka Machado neste link


A Revista Cultural Artpoesia, edição nº 103, está repleta de novidades poéticas. Poesias, contos, curiosidades literárias, humor, textos para reflexão, juntos num almanaque produzido por poetas e prosadores idealistas que acreditam na força da palavra vencendo os desafios e obstáculos em nossa sociedade. 

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Contatos
artpoesia@bol.com.br
(71) 9155-6828 Carlos Alberto Barreto e José da Boa Morte

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O que a morte não cessa de nos dizer


Publicação original: RS URGENTE em 28/01/2013
by Marco Aurélio Weissheimer.

A dor provocada por tragédias como a ocorrida neste final de semana na cidade de Santa Maria sacode a sociedade como um terremoto, despertando alguns de nossos melhores e piores sentimentos. Um acontecimento brutal e estúpido que tira a vida de 233 pessoas joga a todos em um espaço estranho, onde a dor indescritível dos familiares e amigos das vítimas se mistura com a perplexidade de todos os demais. Como pode acontecer uma tragédia dessas? A boate estava preparada para receber tanta gente? Tinha equipamentos de segurança e saídas de emergência? Quem são os responsáveis?
Essas são algumas das inevitáveis perguntas que começaram a ser feitas logo após a consumação da tragédia? E, durante todo o domingo, jornalistas e especialistas de diversas áreas ocuparam os meios de comunicação tentando respondê-las. As redes sociais também foram tomadas pelo evento trágico. Os indícios de negligência e falhas básicas de segurança já foram apontados e serão objeto de investigação nos próximos dias. Mas há outra dimensão desse tipo de tragédia que merece atenção.
É uma dimensão marcada, ao mesmo tempo, por silêncio, presença e exaltação da vida. O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, disse na tarde deste domingo que o momento não era de buscar culpados, mas sim de prestar apoio e solidariedade às milhares de pessoas mergulhadas em uma profunda dor. Não é uma frase fácil de ser dita por uma autoridade uma vez que a busca por culpados já estava em curso na chamada opinião pública. E tampouco é uma frase óbvia. Ela guarda um sentido mais profundo que aponta para algo que, se não representa uma cura imediata para a dor, talvez expresse o melhor que se pode oferecer para alguém massacrado pela perda, pela ausência, pela brutalidade de um acontecimento trágico: presença, cuidado, atenção, uma palavra.
Quem já perdeu alguém em um acontecimento trágico e brutal sabe bem que o caminho da consolação é longo, tortuoso e, não raro, desesperador. E é justamente aí que emerge uma das melhores qualidades e possibilidades humanas: a solidariedade, o apoio imediato e desinteressado e, principalmente, a celebração do valor da vida e do amor sobre todas as demais coisas. A vida é mais valiosa que a propriedade, o lucro, os negócios e todas nossas ambições e mesquinharias. Na prática, não é essa escala de valores que predomina no nosso cotidiano. Vivemos em um mundo onde o direito à vida é, constantemente, sobrepujado por outros direitos. Tragédias como a de Santa Maria nos arrancam desse mundo e nos jogam em uma dimensão onde as melhores possibilidades humanas parecem se manifestar: o Estado e a sociedade, as pessoas, isolada e coletivamente, se congregam numa comunhão terrena para tentar consolar os que estão sofrendo. Não é nenhuma religião, apenas a ideia de humanidade se manifestando.
Uma tragédia como a de Santa Maria não é nenhuma fatalidade: é obra do homem, resultado de escolhas infelizes, decisões criminosas. Nossa espécie, como se sabe, parece ter algumas dificuldades de aprendizado. Nietzsche escreveu que muito sangue foi derramado até que as primeiras promessas e compromissos fossem cumpridos. É impossível dizer por quantas tragédias dessas ainda teremos que passar. Elas se repetem, com variações mais ou menos macabras, praticamente todos os dias em alguma parte do mundo e contra o próprio planeta.
Talvez nunca aprendamos com elas e sigamos convivendo com uma sucessão patética de eventos desta natureza, aguardando a nossa vez de sermos atingidos. Mas talvez tenhamos uma chance de aprendizado. Uma pequena, mas luminosa, chance. E ela aparece, paradoxalmente, em meio a uma sucessão de más escolhas, sob a forma de uma imensa onda de compaixão e solidariedade que mostra que podemos ser bem melhores do que somos, que temos valores e sentimentos que podem construir um mundo onde a vida seja definida não pela busca de lucro, de ambições mesquinhas e bens materiais tolos, mas sim pela caminhada na estrada do bom, do verdadeiro e do belo. A morte nos deixa sem palavras. Mas ela nos diz, insistentemente: é preciso, sempre, cuidar dos vivos e da vida.
Ilustração: bancodeimagenesgratis.com

Minha Opinião
    Tomei um grande susto pela manhã, quando ví as notícias sobre o terrível acidente de Santa Maria, RS. Fui em busca de mais informações, quando confirmei a crueldade de algumas pessoas, umas fazendo comentários infelizes, jocosos, piadas de péssimo gosto, algumas em nome da fé, outras em nome da descrença, outras ainda, porque tiveram uma péssima formação humana ou por serem simplesmente desprezíveis.
   Certo que há muitas e muitas pessoas que demonstram, compaixão, respeito, afeto e amor ao próximo, que esforçam-se em acolher e confortar parentes e amigos dos que se foram tão repentina e precocemente, que se veem de uma hora para outra, desolados, solitários, sem chão e sem rumo, com seus planos destroçados.
   Porém nossos dedos podres escolhem, e as nossas sensibilidades assimilam, mais os ataques escatológicos e as grosserias, que os gestos benfazejos. Isto porque, afagos nem sempre atingem a nossa sensibilidade, mas uma pedrada sem rumo provoca o agravo da ferida em quem é atingido.
    Pensar melhor e revisitar os conceitos de humanidade, deveria ser um modo de vida, deveria ser o modo de cada um encontrar o PROPÓSITO DE EXISTIR.
Altair Ramos
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