Revolução: A primavera chegou?
Altair Ramos
A
juventude está nas ruas em um movimento inquestionável pela mudança. Alguns
eufóricos dizem que o Brasil acordou, mais ainda não. O despertar da Primavera
Brasileira se assemelha mais ao sono daquele adolescente ou trabalhador que
pretende ficar mais cinco minutos na cama antes de irem para a aula ou para o
trabalho. A revolução de fato, precisa de mais tempo, ou seja, precisa de
experiência e organização para ser profícua.
Os
políticos profissionais e a grande imprensa não entendem bem o que esta
acontecendo, os primeiros fazem-se de desentendidos, não acreditam ou não
admitem que as massas possam organizar-se longe dos seus proclames, longe das
pautas elaboradas nos bunkers
partidários, pois estão muito acostumados com as pautas manipulativas. As
organizações políticas perderam esta rodada (risos).
A
imprensa, entendamos como tal toda a mass
media, não sabe onde se posicionar, não sabe se defende ou se ataca, fazem
editoriais jocosos, proclamando direitos kantianos ou defendendo a paz e o
patrimônio público em nome de uma democracia descalcificada. O que não traz
para si créditos maiores do que já desfrutavam anteriormente.
A
revolta dos R$ 0,20, o movimento passe livre, acabou quando o aumento do preço
das passagens foi revogado, porém a revolta não cessa aí, a luta é motivada
principalmente pelo descaso do Estado e pela indignação que sente o cidadão ao
observar os trilhões, nos leds que
não param de piscar no painel do impostômetro, enquanto caminha em direção aos
serviços essenciais que o governo garante existirem nos postos médicos e outros
serviços públicos.
Um dos
fatores que alavancam as mobilizações populares pelo país é o sentimento de
incapacidade em ser atendido, somos ouvidos, mas não escutados, isso porque a
democracia impõe liberdade de expressão, mas é só isso mesmo. Aqueles que
deveriam traduzir as necessidades e anseios da população para os campos do
executivo e legislativo produzindo ações concretas, não podem fazer tal
tradução, pois falam outra língua ou fingem não compreenderem o que o povo
quer.
As
palavras em um discurso político, quase nunca significam o que estamos ouvindo,
estão sempre carregadas de sentidos dúbios, mensagens indiretas e subliminares,
com recados claros e bem direcionados nas entrelinhas. O discurso é sempre uma armação pirotécnica, escondendo os verdadeiros
objetivos: o poder político e o status de poder. Isto cansa, e este cansaço é
que está colocando as pessoas nas ruas. Terá o grito da multidão, menor valor
que as falas planejadas daqueles que se dizem nossos representantes?
Ideias
conservadoras, ultraconservadoras, anarquistas, e outras, estão há muito, sendo
injetadas nas mentes inteligentes da
população, sendo utilizadas palavras chaves tipo: ética, corrupção, direitos, democracia,
etc. Com isso, finge-se pregar a liberdade, a expansão dos direitos, mas no
pano de fundo o que há são joguetes políticos que tentam estigmatizar e
mistificar algumas ideologias, enquanto implodem com outras.
Numa
época em que vivemos a desestrutura das ideologias, tanto no meio popular como
no meio político, nada mais coerente que uma mobilização nacional sem
partidarismos, onde o que prevalece é a vontade do “EU”. Isto porque, infelizmente, a experiência
militante perdeu-se na história por meio da representatividade ruim e no individualismo
do capital e do consumo, que desestimulam a participação popular nos projetos
da coletividade.
Tudo
isso, implica num primeiro momento, que o cidadão revoltado extravase a mágoa
contida transformando-a em ira. Com isso, o desequilíbrio mental, faz com que fique
parecido a um desordeiro, um vândalo, principalmente pela falta de lideranças,
que certamente nascerão destes eventos. Porém uma pergunta é iminente, alguém
já viu ou ouviu falar em levante popular, sem lesões, sem danos? Os manifestantes
não reivindicam por reformas, clamam por transformações políticas abrangentes.
É preciso sim, ter pauta e planejamento, é
preciso que hajam lideranças, é preciso que a diversidade das massas dialogue
para encontrar os objetivos comuns que alicerce uma pauta próxima da hegemonia.
O povo vem sofrendo inerte há muito tempo, não podemos perder o momento,
oportunistas estão a postos, aguardando que a voz das massas fique rouca, para
depois falarem outra coisa em nosso nome. Cuidemos, pois o grito por direitos
pode tornar-se em silêncio compulsório.
Imagens do Google
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