Brasil: Estamos sem voz!
Por Altair Ramos
A comunidade política existe num nível que não é idêntico à realidade
das pessoas. Não se pretende aqui, tratar de ideologias políticas, partidárias
ou místicas, o único interesse é fazer uma crítica à inércia e a falta de
competência do cidadão que não é capaz ou é impedido de ser e sentir-se parte
da engrenagem que chamamos cidade, sociedade, como sujeito opinativo, criativo
e participativo, que deveria ser estimulado e respeitado enquanto cidadão. No
entanto o corporativismo político encabresta cada vez mais os desejos e as
ações do homem justo.
Quem espera por uma República Militar, está no mesmo patamar daqueles
que querem um Brasil Monárquico. Estão atrás de um retrocesso político. Não é
um governo militar que irá melhorar o país ou um rei que irá acabar com a
corrupção e o mau caratismo político.
O Brasil precisa de uma reforma ampla, profunda e corajosa no sistema
político e econômico, que pode ser realizada por qualquer liderança política. Precisamos
de justiça para os justos, de leis que protejam o cidadão e o estado, garantindo
os direitos essenciais que permitam ao povo viver uma democracia de fato. A voz
do povo deve ter valor. Ditadura já existe, mudar de sistema significa apenas
mais burocracia e mudança de postos, troca de cadeiras. Seis por meia dúzia,
fica como está.
As coisas não estão boas, são muitas incertezas, muitas teorias e ideologias
pipocando e confundindo as pessoas, democracia, teocracia, jesuscracia,
militarismo, comunismo, parlamentarismo, seja qual for o modelo, todos
pretendem quebrar a constituição, quebrar as liberdades e os direitos do povo.
Uns sutilmente, outros sem o menor escrúpulo, em favor de méritos privados e
pessoais, que podem ser negociados livremente no mercado das preferencias
corporativistas.
A população precisa ser ouvida e atendida, a democracia, o governo do
povo pelo povo, está cada vez mais degradado, um lixo. A vontade do povo não
prevalece nem influencia as tomadas de decisão em nosso país, basta observar
os fatos que ocorrem nas casas legislativas, para se verificar os
níveis da qualidade e reconhecimento aplicados aos interesses populares.
Um ruralista, que não respeita a sustentabilidade ambiental, defende
uma agroindústria monopolizadora e assassina, que desrespeita seus
trabalhadores, o pequeno produtor, além de impor ao consumidor produtos de boa
aparência, que precisam da força do marketing para imprimir uma ilusão de
status e saúde, que verdadeiramente não agregam, preside a Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado Federal.
Um dublê de pastor e deputado, analfabeto social e cientificamente, que
politiza nos cultos e faz pregações religiosas na política, espalhando
preconceito e ódio ao falar de etnias, sobre os direitos dos homossexuais, além
de responder a processos por racismo, discriminação sexual, estelionato e
injuria, é presidente da Comissão de
Direitos Humanos e Minorias.
Ainda há aqueles que foram condenados, não sei a quem cabe julgar se o
mensalão existiu ou não, se foi ou não linchamento político, assim como não é
possível definirmos se as condenações foram justas ou injustas. O que interessa
neste evento, é que os condenados estão circulando livremente usando e abusando
de direitos parlamentares. Além de ocuparem cadeiras na Comissão de
Constituição e Justiça e de Cidadania. Um exemplo claro de que as leis são
elaboradas para proteger grupos de interesses e seus próprios elaboradores,
nada mais.
Como presidente do Senado, temos um senador que em outra gestão
precisou renunciar ao cargo para não ter os direitos políticos cassados. O
sujeito é campeão em processos arquivados que envolvem todo tipo de falcatruas
com o dinheiro público. De volta ao seu ninho, ganha dos colegas de trabalho, a
presidência da casa, apesar de toda a rejeição popular, que lembra ao resto do
país a existência da Lei Ficha Limpa.
Na trilha das improbidades, também está o presidente da Câmara dos
Deputados, que vem empurrando a força de recursos, a quebra de seu sigilo fiscal
e bancário, bem como de suas empresas, sendo acusado de manter ilegalmente
dinheiro fora do país. Somente para não esquecer, há também aquele palhaço semi-analfabeto
que foi campeão de votos.
São inúmeros os casos de parlamentares com denuncias e processos em
andamento, que em detrimento da vontade popular, continuam suas vidas normais,
fazendo o seu trabalho normal de "político". Como se não bastassem
tantas atrocidades praticadas por nossos "supostos representantes", a
Procuradoria da Câmara quer controlar a internet para tirar do ar vídeos e
comentários que desagradam aos parlamentares. Mas isso não é censura, é controle
de informação sem qualidade. O interessante de tudo isso, é que a medida
protege imediatamente um ou dois parlamentares, que adivinhem, também estão no
centro de denúncias e processos.
Diante de todo este quadro, apenas uma pequena parcela da sociedade tem
a capacidade de indignar-se, ao perceber que não são ouvidos em suas queixas e
reclamações, não se veem acolhidos pelo estado que promete através de
representações políticas a manutenção dos direitos humanos. O sistema contaminado
e corrupto não dá ouvidos aos clamores populares, manifestações em praças
públicas, marchas, cartas abertas, abaixo assinados, petições físicas ou
virtuais, não servem para nada.
Para completar, existe uma classe de conservadores e
ultraconservadores, que limitados por conceitos ineptos de moralismos sobre a
família e sobre o comportamento social, não entendem que se já houve ordem
social melhor do que há hoje, certamente foi destruída desde a Revolução
Industrial, que tirou o homem de uma vida de subsistência, para uma vida de
"sub existência".
O capital e o trabalho, fez das sociedades o que elas são hoje. Mesmo a
despeito dos processos educacionais contemporâneos, que tentam há 300 anos
promover o sujeito crítico e autônomo, remando contra a maré, pois todo o
sistema é globalmente utilitário e anarcocapitalista, sem o estado mínimo, onde
é possível perceber que capital e estado estão intrincadamente interligados.
Piorando, estes conservadores, fingindo-se indignados e exaltados com
as mazelas sociais, creditam a alta criminalidade, a falta de recursos para a
educação, para a saúde, a falta de moradia e emprego, a este ou aquele sistema
de governo, em clima de desespero político e muita desestabilização da consciência
social, fazem um sensacionalismo midiático que embebedam a população, e ficam a
fustigar velhas caveiras, colocando carnes nos seus ossos ressecados, alegando
uma sugestão de ordem, sem perceberem que nada mudará a condição humana.
Estamos caindo num poço de "inexistencialismo" individual, social
e político, valemos apenas pelo nosso voto, por nossa força de trabalho, após
isso é sentar e calar. A voz do povo
nunca foi a voz de Deus. Sempre nos enganaram, de agora em diante, tudo está
mais evidente.
Leia também em: Debates Culturais
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Belíssimo artigo, amigo. Um verdadeira autópsia nesse corpo escandalizado a que chamamos Estado.
ResponderExcluirDo jeito que vai a nossa manemolência cultural, vamos torcer para que a luz no fim do túnel não seja a aparição de um trem esmagador. Mas, pensando bem, se for; que venha e que esmague a tudo isso. Assim poderemos sofrer o caos, e com ele o estabelecimento de uma nova ordem.
Um abraço.
Prezado Jairo,
ExcluirObrigado pela visita e leitura, tenho medo de um trem esmagador ou descarilado, mas os freios já estão falhando, difícil saber para qual lado irá tombar.
Abraço
Bravo! Bravo!
ResponderExcluirSenti cada palavra do seu texto e concordo inteiramente com cada uma delas. No Brasil, infelizmente a política nacional não trabalho, e nunca trabalhou, a serviço do povo. Isso é notório nos escândalos que envergonham o país e que desmascaram políticos diversos, envolvidos em transações ilícitas com o dinheiro do povo.
Na verdade, este mesmo povo que, como você bem disse, anda emudecido, sem voz sem lenço nem documento. Inerte, passivo e carente de informação educacional, para que sejam capazes de fazer uma real mudança nesse país.
Enquanto isso não ocorre, os paramentares fazem suas alianças, sempre em benefício próprio ou de grupos específicos, desconsiderando a pluralidade existente na sociedade como um toso. É oq ue se vê com a bancada evangélica que envergonha a nação em dois sentidos. O primeiro diz respeito a fé Cristã, a qual é vendida, negociada, a qualquer custo para que os interesses deles sejam privilegiados. E, o segundo, diz respeitor a laicidade que nunca existiu nesse país.
Por tudo isso, é triste saber que continuamos remando contra a maré. Trsite também saber que dentre todos os direitos que possuíamos, o de voz era o único que restava. Porém, como você bem destacou, até esse direito roubaram de nós. O que falta agora?!
Se eu estivesse na sua frente lhe aplaudiria de pé!
PARABÉNS! e obrigado por ter me convidado para ler essa EXCELENTE reflexão!
Ah, posso republicar esse texto no meu blog?! Ficaria MUITO feliz se me permitisse fazê-lo!
ResponderExcluirAbraços!
Diogo,
ExcluirFelicidade é ser elogiado por professor de notório sucesso. Agradeço as palavras de incentivo, pois percebo que estou acertando a mão na organização das ideias, na minha tentativa de melhorar as coisas (muita pretensão, rsrs).
Fique a vontade para republicar. Apenas envie-me o link da postagem.
Obrigado
Caro amigo,preciso lhe falar.Meu e-mail:miriamdesales@gmail.com
ResponderExcluirAbração