domingo, 7 de outubro de 2012

Desestruturação das Ideologias na Política Partidária



 Imagem:  todomarketingpolitico.com
Não tenho gostado dos debates, das falações dos políticos, não há qualquer novidade sendo apresentada pelos candidatos, não ouço nada que possa nos orientar, que não seja a mesma coisa, que não seja o velho mais do mesmo, que possa atingir o coração do cidadão, fazendo-nos vibrar. Poderia ser uma frase de efeito, uma entonação de voz diferente, ou uma proposta embasada no lúdico libertário, ou ainda, carregada de palavras de ordem com teor de luta, com tal eloquência, que ao serem proferidas, pudessem atingir os eleitores e os não eleitores, fazendo-os arregaçar as mangas, tomarem para si as dores do candidato, as dores da sociedade, as dores dos menos favorecidos, que pudessem transformar tais sentimentos em entusiasmo, em revolta política, em protesto social, em voto.
Não há no Brasil, hoje, um debate ideológico, mesmo entre os políticos mais capacitados. Não existe um candidato com a habilidade de fazer da sua campanha um movimento, um candidato que tenha a resposta na ponta da língua, mesmo que repleto de retórica, que traga uma ideia nova, um sentimento novo. É cansativo vivenciar a hipocrisia do denuncismo, a vaidade do "ele não fez, mas eu sei fazer", a soberba da acusação sobre as verbas mal aplicadas, mas que será diferente "na minha" gestão, e a manipulação da fé em favor do poder. A arena política é construída sobre fatos inteligíveis e factoides verdadeiros.
É evidente que há um esvaziamento dos traços ideológicos na prática política, a velocidade e a quantidade das informações, não fazem as pessoas mais inteligentes, mais pensantes. Está de fato, confundindo as pessoas, pois não há tempo mental suficientemente hábil para que se processe tudo o que nos chega. São denúncias, conspirações, ataques, defesas e presunções que afastam a sociedade, o eleitorado, daqueles que pretendem representá-los. Neste jogo de cartas embaralhadas, com algumas marcadas, é difícil fazer uma sequência que vire o jogo sem que o oponente desconheça a cartada, ou que em um dos lados seja reconhecido o melhor jogador. Faltam cartas a mesa ou sobram outras que não fazem parte do baralho.
De certa forma, pode-se dizer que os eleitores, profundamente em seus anseios, ficam tontos com as movimentações do cenário político, mas não ligam muito para o resultado, escolhem pela obrigatoriedade do ato. Pouco interessa quem será o seu representante, seu elo de ligação entre o estado e as prerrogativas entre o "ser humano", o "ser moral" e o "ser "constitucional". A grande massa ainda não percebeu estas evoluções, não se dão conta que os políticos estão a deriva no mar das mudanças da época, que impõem indecisão nas posturas e nos comportamentos. Não sabem qual a melhor ideia a ser defendida, com isso discursam sem alma, se apegam as velhas fórmulas, e tocam o barco cumprindo ordens de um velho manual qualquer.
Existe um caldeirão de ideologias colidindo e sendo engolidas pelo sistema econômico. A regra contemporânea é a exaltação do egocentrismo, promovida pelo neoliberalismo, que modificou a consciência moral, descontrolando o superego, que tende a trabalhar somente as vaidades individuais. Diante deste cenário, um paradoxo se instala na mentalidade dos políticos, pois existem necessidades coletivas que urgem cuidados, contrapondo-se a vaidade humana que resolve seus problemas no campo da produção e do consumo descontrolado. Restando somente o pragmatismo, a lei da vantagem, o falso discurso da prosperidade. É o que é!
 Imagem: wikiteacher.wordpress.com
Texto publicado inicialmente em: Revista Fazer Política

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