Foto: 43Iracema Chequer Ag. A Tarde
MARIA GUIMARAES SAMPAIO (1948-2010)
Fotográfa e escritora
"perdida entre ficção e realidade"
... agora em nova realidade...
Seus livros
"Estrela de Ana Brasila" e "Rosália Roseiral" - Editora Record
"Continhos Para Cão Dormir" I e II - Editora P55
Blog: Continhos Para Cão Dormir
Subiu mais de 100 andares no elevador aberto. O piso em madeiras velhas - quase podres. As cordas rangendo. Vento, ventoinho, cruviana. Por cada andar, magotes de pessoas saiam. Poucas entravam. Chegou sozinha ao centésimo andar e nele reconheceu a canção de Vinícius - era uma casa muito engraçada, não tinha teto não tinha nada... Sentou numa nuvem, tomou do violão pendurado nas chaves de Pedro e lembrando uma outra cantiga mais antiga, cantou: daqui não saio, daqui ninguém me tira...
Continhos Para Cão Dormir I, pag. 35
1999
Trinta anos da morte de minha mãe.
Minha Mãe vive dentro de mim.
Raramente ela vem , em sonho, me ver.
Esta noite ela foi e voltou muitas vezes.
Visitou doentes em hospitais, consolou
perdidos em enterros. Eu, pregada
nela: abraçando, beijando, sentada
de junto: acariciando seus cabelos,
braços. Mãos dadas. Perguntei por
que o esparadrapo no pescoço e em
gaitada me respondeu ah minha filha!
Foi uma injeção que me deram ao vivo
e em cores! A cada chegada de minha mãe
há uma alegria e uma interrogação.
Uma dúvida de como tantos anos se
passaram pensando que minha mãe
está morta... se ela está aqui e agora.
Mas ela não está.
Continhos Para Cão Dormir I, pag. 43
Tudo é um pouco estranho, mais impressionante que estranho, durante a semana que se passou, a partir de quarta ou quinta-feira, lia "Continhos", praticamente todos estes dias até ontem, falei sempre sobre a forma daquela escrita, com quase todos aqui em casa, ontem resolvi ir ao blog, fiquei tomado de dor e mágoa, dor pela ocorrência fatal, pela ausência da pessoa que mal conheci, talvez sem nunca mais reencontrar. A mágoa vem da minha própria desatenção e falta de aproximação com as pessoas que me interessam. Felicidade - fica um legado de imagens e textos, na minha memória, o registro de uma pessoa entusiasmada com os pés na própria história (e da Bahia), vivendo o contemporâneo. Uma pessoa que em algum momento me fez sentir importante. A lição - jargão ou não: Não deixem nada para depois...
Seguir em frente.
Altair,
ResponderExcluirtambém não tive o prazer de conhecer Maria, que pelo jeito foi uma pessoa muito especial.
E seu texto me fez lembrar que eu também deixei de conhecer o Anibal Beça ( poeta Amazonense) enquanto vivo, por puro acanhamento. Sempre o encontrava em reuniões, comprimentava de longe, mas não me aproximava para trocar dois dedos de prosa com ele e de repente, soube que se foi. Dor e mágoa se misturam e só restou um bilhete dele... "Porque não se aproximou?"
bjs
Não sei o que mais me comoveu; se os textos De Maria Guimarães Sampaio ou seu desabafo nesse desencontro e agora sem data para marcar um encontro.
ResponderExcluirMe fez pensar em quantas vezes eu também vivi algo parecido e como isso dói, como isso nos fere e nos faz mais pobres, mais sozinhos em algum canto que era para ser povoado...habitado.
Não estou ajudando muito, né?...rs
Vou te contar um segredo: o fato de adimirar, de amr, de ler, de pensar e desejar uma aproximação é uma forma de energia encontrada e trocada. É uma forma sentida de dizer: eu gosto de você. Pode não ter acontecido o encontro em si, mas de alguma forma, ele houve, sim !
beijo grande
Altair, infelizmente a vida tem dessas coisas... Pelo seu modo de falar dessa guerreira, ficou um vazio... Um vazio que não pode ser preenchido... Pena não a ter conhecido...
ResponderExcluirUm abraço, amigo!
Um post que bem poderia se resumir no "entre perdas e danos" ... a vida é assim, perde-se quando se deixa de aproveitar mais (e o melhor) das pessoas . Belo post !
ResponderExcluirAltair
ResponderExcluirGuardo uma saudade imensa também. Há 33 anos minha mãezinha virou estrela e está lá no céu me esperando. Tenho fé que um dia nos encontraremos e vou recuperar todo esse tempo, distante dela!
Um abraço e tudo de bom!
Meu caro,
ResponderExcluirQuando o braço é curto, a mente lhe dá uma mãozinha. A sua fez isso. Pelo lido, você esteve sempre muito próximo...
Você iria adorar dar um abraço em Maria! Maria era festa, acolhimento, alegria! E como sabia amar! Saudades dessa amiga tão querida...
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