O que esta questão abraça
deveria ir além da discussão semântica e da ordenação social. Uns destacam a
atitude como poderosa, sou um destes. O jogador foi impávido ao rebater o
ataque com grande ironia, pensamento e ação instantâneos sem a necessidade de
medir as consequências. Outros reclamam da campanha por motivos que o próprio
preconceito impõe no campo da vontade política antirracial, uma vez que bananas
e macacos são símbolos categóricos de atitudes racistas. Alguns outros refutam
a campanha por questões de crenças e religiosidade, afinal não somos macacos,
somos pessoas.
Não ligo muito para os refutadores, temo que alguns terminem por criticar
o jogador pela atitude anticristã, antiteísta. No meu entendimento, uma bola
foi lançada para vários rebatedores, não podemos ter a certeza de onde a mesma cairá. Não sabemos se será
rebatida para o campo das teses e antíteses, ou mesmo se permanecerá perdida para
sempre, nas órbitas do anedotário do senso comum.
#SomosTodosMacacos, deveria conduzir-nos a reflexões mais amplas sobre as nossas
origens e sobre os comportamentos sociais. Como evolucionista que sou, abraço a
causa com grande entusiasmo, ao mesmo tempo em que tenho a certeza que os
argumentos se esvaziem devido a crença numa gênese criacionista. Porém, estes
não expõem seus argumentos abertamente, até mesmo por "parecer" que as
coisas não se misturam. Embora, tudo sejam galhos e ramos da mesma árvore. Da
forma que a campanha é debatida, devido a reação cognitiva que a percepção do substantivo macaco provoca em cada interlocutor, empurrando-o para a banalização, o assunto logo perecera como um escanteio perdido.
Símbolos e conceitos mudam de lugar e de objeto, lembro-me que as
torcidas adversárias chamavam o time e a torcida palmeirense pejorativamente de
porco, fazendo uma alusão preconceituosa aos italianos que viviam em São Paulo.
Nos anos oitenta, num ato de provocação entre torcidas, um porco foi solto em
campo, a partir de então o suíno divide tranquilamente o status de mascote do
clube com o periquito verde que oficialmente já representava o alviverde. Com
isso acabaram-se as chacotas e
humilhações, que não eram direcionadas apenas ao clube, mas principalmente a
toda uma classe de estrangeiros, os italianos.
Sugiro então, que a CBF insira uma palma de bananas junto ao distintivo
da seleção brasileira (acima ou abaixo do escudo). Melhor ainda, todos os
clubes, principalmente as seleções predominantemente de origens africanas, poderiam
adotar o símbolo. Até mesmo a FIFA, ao invés de utilizar um lembretezinho em
uma faixa, devesse adotar o símbolo Musaceae nos uniformes de todos
os escretes participantes da World Cup.
Devemos pensar mais sobre isso, principalmente porque somos feitos da mesma
matéria que os macacos. Não somos mais especiais que eles, a ponto de
descarregarmos a nossa ira em seres tão empáticos a nós. Então, se somos capazes de agir desta
maneira, é porque de algum modo, nos vemos nestes nossos irmãos terráqueos. E,
se não gostamos de alguma coisa em nós, mais do que rapidamente, deslocamos o
negativo para outros seres que consideramos inferiores ao que somos. Porque
afinal, somos seres humanos.
Se não #SomosTodosMacacos,
#SomosTodosPrimatas. É no que acredito!
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