sábado, 8 de maio de 2010

Minhas Mães



Minha Mãe
Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Tenho medo da vida, minha mãe.
Canta a doce cantiga que cantavas
Quando eu corria doido ao teu regaço
Com medo dos fantasmas do telhado.
Nina o meu sono cheio de inquietude
Batendo de levinho no meu braço
Que estou com muito medo, minha mãe.
Repousa a luz amiga dos teus olhos
Nos meus olhos sem luz e sem repouso
Dize à dor que me espera eternamente
Para ir embora. Expulsa a angústia imensa
Do meu ser que não quer e que não pode
Dá-me um beijo na fonte dolorida
Que ela arde de febre, minha mãe.

Aninha-me em teu colo como outrora
Dize-me bem baixo assim: — Filho, não temas
Dorme em sossego, que tua mãe não dorme.
Dorme. Os que de há muito te esperavam
Cansados já se foram para longe.
Perto de ti está tua mãezinha
Teu irmão. que o estudo adormeceu
Tuas irmãs pisando de levinho
Para não despertar o sono teu.
Dorme, meu filho, dorme no meu peito
Sonha a felicidade. Velo eu

Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Me apavora a renúncia. Dize que eu fique
Afugenta este espaço que me prende
Afugenta o infinito que me chama
Que eu estou com muito medo, minha mãe.

Vinícius de Moraes
.

3 comentários:

  1. Almirante,

    Excelente post para homenagear aquelas que, parafraseando Florbela Espanca, não são sequer a razão do nosso viver, pois que são já toda a nossa vida.
    Abraço.

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  2. Mãe protetora em todas as horas.
    Beleza de post, meu velho!
    E esse poeta caiu no esquecimento. Coisas de nossa pátria sem memória!
    Um abraço.

    ResponderExcluir
  3. Oi, Almirante
    Muito linda a sua homenagem às mães, adorei!
    Um abraço e muitas felicidades para todas as mães da família!

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