domingo, 26 de fevereiro de 2017

O Circo Chegou



O circo chegou, o ruído estridente saía de um alto-falante zuadento que tocava repetidamente aquele clássico: ta-na-na-na-na-na-na, ta-na-na-na-na-na-na, carregado por um DKV caindo aos pedaços, com aquele barulho infernal saindo do motor, tipo ferro batendo e explosões fora de tempo, coisa que somente quem já viajou em um carro destes ou viu algum em circulação pode entender. O carro velho estava todo recoberto por enormes balões coloridos e listrados, com uns palhaços dentro e um sujeito muito magro de maiô em cima do capô, visão suficientemente necessária para desobrigar muita gente de querer ir ao espetáculo.
Estávamos ali em frente ao supermercado Nishida sentados à toa, sem fazer nada, a não ser criar histórias sobre as pessoas que passavam, éramos bons nisso, hoje penso que eu era bem melhor que os outros dois, pois sempre se riam muito ou ficavam apavorados quando eu traçava os perfis dos transeuntes - estivesse na Bahia, certamente ouviria algo do tipo, Deus é mais - inclusive detalhando situações da vida pessoal e do ambiente doméstico do passante desconhecido que ignorava a nossa existência. Lógico, os outros também faziam graça, mas não entravam em detalhes, digamos assim... mais íntimos. De qualquer forma, nos divertíamos a baixo custo explorando a aparência dos alheios.
Quebrando a monotonia, um alarido vinha da rua lateral ao supermercado, engarrafando o trânsito sem ninguém... continue lendo

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Campanhas de Teclado

QUER AJUDAR?
#DesafioNovo
A fosfoetanolamina foi nos apresentada em uma cápsula AZUL e BRANCA, a sua finalidade propalada com base no desespero da população, numa religiosidade tacanha, com um apoio midiático e político falacioso e sem bases críveis, como a cura do câncer. Mas ainda não foi, talvez não seja, pode até vir a ser. Mas acho que não.
Agora a onda é uma fotografia em PRETO e BRANCO #challengeaccepted #DesafioAceito

TAMBÉM LANÇO UM DESAFIO:
- Leve uma vida mais saudável
- Conheça mais sobre a doença
- As causas e as consequências
- Aprenda e divulgue
- Informe-se sobre o hospital de câncer mais próximo da sua região, pegue o número da conta corrente, viste, voluntarie-se
- Faça um depósito mensal e convide os amigos
#FacaOqueEcerto

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Bate papo com a escritora Cidinha da Silva

O Grupo de Estudos Literatura e Periferia(s) - GELPS, da Universidade do Estado da Bahia – Departamento de Educação – Campus XIII (Itaberaba), coordenado pela Profa. Dra. Luciana Moreno, se propõe a promover a discussão em torno dos textos da literatura brasileira contemporânea, produzidos por mulheres e homens, oriundos das diversas periferias brasileiras. A acepção do termo periferia, aqui compreendido, insere-se em questões que vão da geografia às discussões políticas, identitárias e ideológicas. No GELPS, a discussão em torno das políticas afirmativas ocorre a partir da investigação da produção literária de autores contemporâneos que dão voz às minorias, a exemplo de Sérgio Vaz, Fábio Mandingo e Marcelino Freire.
Agora, O GELP(s) concentra-se na obra da escritora mineira Cidinha da Silva, autora de mais de oito livros, a exemplo de “Nove pentes d’África”, “Baú de Miúdezas” e “Racismo no Brasil e afetos correlatos”. Estes abordam temas universais e de extrema relevância como o amor, o racismo e a homoafetividade. Cidinha tem como marca da sua literatura a prosa poética e transita habilmente pelo terreno da crônica. No Blog da Cidinha é possível encontrar referências amplas sobre a produção literária e ensaística da autora. No dia 03 de dezembro, o GELP(s) recebe a escritora e convida a comunidade para um bate-papo com Cidinha da Silva no auditório do Departamento de Educação - Campus XIII da Uneb, em Itaberaba, que ocorrerá às 19 horas.
Neste encontro, a autora falará sobre sua obra em consonância com os estudos propostos pelo grupo, respondendo também às perguntas do público. Ao final, haverá sessão de autógrafos de livros que estarão disponibilizados para venda no próprio evento. Entrada franca




segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A Verdade não tem corpo


A Verdade não tem corpo
A Esperança não tem olhos
Altair Ramos

Espantam-se com as verdades
Que surgem gasosas e lentas
Em muitos casos, fogo fátuo
A sina da verdade, só transparecer
Há de ser num espectro rápido
Pois os olhos que hão de ver
Viram logo pro outro lado.

Viver de falsas esperanças
Uma hipérbole pleonástica*
Quimeras que impomos ver
Pois a esperança não tem olhos
Sem baliza, sem guias para a mira
Quando a verdade vem à tona
Resfolega, foge, tropeça e morre.

Verdade encantadora não existe
Só é conveniente sendo necessária
Porém, desnecessária se inconveniente.

A esperança, riso da boca triste
Placebo voraz em tarja preta
Protegem as rugas de toda a gente.
.
.
*Talvez, um pleonasmo hiperbólico


sábado, 10 de outubro de 2015

LIVRO: As Percepções de um Corvo Eremita






Minhas percepções sobre As Percepções de um Corvo Eremita
de Jairo Cerqueira
Logo na primeira linha de "As Percepções de um Corvo Eremita", dou de cara com Augusto dos Anjos, pelo uso de uma única palavra - rutilância - no contexto do texto ou não, ser remetido a Augusto dos Anjos, preparou-me para leitura que fosse complexa, enigmática, até mesmo intimista.
Poderia dizer que este romance filosófico carrega uma essência nietzschiana, porém considero mais importante o tom simbolista e a força parnasiana do soneto Psicologia de um Vencido - “Eu, filho do carbono e do amoníaco,/ Monstro de escuridão e rutilância,/ Sofro, desde a epigênese da infância,/A influência má dos signos do zodíaco.” - que traduzem ou fundamentam a representação da vida cotidiana dos seres luzidios que movimentam o universo da história.

Ao estilo das histórias fantásticas e contos sobre peregrinos, um corvo chamado Emilho nos conduz a inquietações, questionamentos e descobertas, porém o senso que prevalece ante a capacidade cognitiva das personagens corvos, é a negação da descoberta, o encruamento da curiosidade, a anulação do eu.
Na grande árvore, agasalho - dormitório de aves, como se diz por aqui - do bando de corvos, tudo acontecia mimética e aristotelicamente. Todos os dias, ou seja, todas as noites as castas cumpriam as suas missões sob o comando do tirânico Vincenzo.
Por um motivo ou outro, sinto-me na necessidade de lembrar Euclídes da Cunha em Os Sertões, qual Tom Zé em entrevista diz que ao começar a ler a seção sobre o Sertanejo, algo tomou conta da sua mente, ficou desconfiado que conhecia, sem saber muito de onde, aquele homem descrito por Euclides. Assim é, também desconfio que conheço aqueles corvos.
Emilho, um jovem corvo insatisfeito, impelido pela capacidade de ver além dos costumes, sente a necessidade de romper a barreira das regras, acredita que a vida possa ser de outra maneira, inicia suas buscas no pequeno território onde vive, repleto de boas intenções, convida os mentores e o bando a fazer com ele as novas descobertas.
Tudo por ali sempre fora tirania e medo, desafiar os tiranos e o senso comum significaria insurgência, seguida por punição e banimento. Nada, nenhum corvo deveria interferir no azeitamento e no movimento perfeito das engrenagens que impulsionavam o funcionamento daquele bando. Rejeitado, sem saber o que encontraria, o corvo se lança por sua conta e risco ao desconhecido.
A partir daí a narrativa coloca o Corvo Eremita e o leitor em uma caminhada onde as dificuldades da limitação e a necessidade de transpor os obstáculos impelem a vontade do andarilho, qual faz imersão em um mundo de percepções, reflexões e descobertas.
Estamos todos convidados ou desafiados a partilhar desta caminhada lúdica proporcionada pelo nosso amigo Corvo Cerqueira.
Informações
Percepções de um Corvo Eremita
Jairo Cerqueira
Scortecci Editora
Ficção
2015
204 páginas
 . o O o .
Psicologia de um vencido
Augusto dos Anjos
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Produndissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
  . o O o .

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