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Primeiras impressões
Por Altair Ramos
Peguei o
livro Balé Ralé nas mãos da doce Joana, conversamos sobre muitas coisas,
escritores, escritos, a pessoa do escritor e a pessoa que escreve.
Despedimo-nos, fui ali e acolá, cheguei em casa, abri o livro. Não, não abri,
passei algum tempo olhando para aquelas duas pessoas da capa. A Imaginar como
eram, o que foram e o que são. O que faziam e como faziam. Isso me levou ao
Cretáceo, onde vi um enorme meteoro, após isso fui ao Paleolítico, de lá,
fiquei a observar o quanto avançamos até aqui.
Lembrei-me
também do seriado Lost, que acompanhei durante oito anos. Tal lembrança ocorreu
porque na série havia um casal mumificado pelo tempo, em uma gruta do outro
lado da ilha. Debateu-se e especulou-se muito sobre as múmias, até que um dia
foi revelado, mas a memória que falha, não consegue dar a certeza, se eram mãe
e filho ou um casal de idosos sobreviventes, que se conheceram no voo, que ao
explodir, despencou na ilha.
Bem, nada
disso tem muita relevância com o Livro de Marcelino Freire, porém minha mente
foi levada para estes momentos, passando por Nijinski, Chico Science, coisas e
coisas que já se foram. Então, achei que deveria expor o que senti. Mas aquelas
pessoas, aquelas, que certamente não podem ser tocadas, lá na Holanda, onde
estão expostas, podem ser tocadas aqui na capa do livro, tanto podem ser
tocadas, que tive a impressão de ter ficado com as mãos impregnadas de barro,
poeira e certo odor putrefato.
Então abro o
livro e começo a primeira leitura, Homo Herectus. Uma viagem histórico-paleontológica,
regada de insights da TV aberta despertando a curiosidade e o lugar comum.
Gostei daquilo tudo, sendo levado com um tom notório de seriedade. Então, estou
no final da leitura enquanto ouvia Jimmy Hendrix tocando a sua revolução em “May
This Be Love”, chego às duas últimas linhas do texto e encontro um fechamento
totalmente intencional e surpreendente. Não colocarei palavrão aqui, e ninguém
tem nada a ver com isso.
Marcelino
Freire traz para o leitor, aspectos da vida que somente as personagens poderiam
conhecer, faz um grande exercício de observação e exposição do âmago das
pessoas, em flashes que somente as próprias personagens poderiam
explicar. Ao mesmo tempo, tudo é tão claro. De forma poética e romântica,
o autor explora os afetos, humaniza vítimas e algozes, a grande maioria, sempre
vítimas. Poe vida e movimento em populares invisíveis e sujeitos passivos que
não chegam a ocupar os noticiários mais chinfrins.
“E ninguém – até então – tinha nada a ver com isso”.
* BaléRalé - Atelie Editorial, 2003 - 127 páginas
A obra reúne o que o autor chama de '18 improvisos'. Contos curtos que
buscam revelar o estilo do escritor, o de procurar 'palavra dentro de
palavra', como o 'ANGU' dentro do 'sANGUe', ou o de misturar o erudito
com o popular, aqui representados 'Balé' e pela 'Ralé'.
** Marcelino Freire nasceu em 1967, em Sertânia, PE. Viveu
no Recife e, desde 1991, reside em São Paulo. É autor, entre outros,
dos livros Angu de sangue (Ateliê Editorial) e Contos negreiros (Editora
Record – Prêmio Jabuti 2006)
Fonte: Google Books
Fonte: Google Books
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