Imagem: todomarketingpolitico.com
Não tenho gostado dos debates, das
falações dos políticos, não há qualquer novidade sendo apresentada pelos
candidatos, não ouço nada que possa nos orientar, que não seja a mesma coisa,
que não seja o velho mais do mesmo, que possa atingir o coração do cidadão,
fazendo-nos vibrar. Poderia ser uma frase de efeito, uma entonação de voz
diferente, ou uma proposta embasada no lúdico libertário, ou ainda, carregada
de palavras de ordem com teor de luta, com tal eloquência, que ao serem
proferidas, pudessem atingir os eleitores e os não eleitores, fazendo-os
arregaçar as mangas, tomarem para si as dores do candidato, as dores da
sociedade, as dores dos menos favorecidos, que pudessem transformar tais
sentimentos em entusiasmo, em revolta política, em protesto social, em voto.
Não há no Brasil, hoje, um debate
ideológico, mesmo entre os políticos mais capacitados. Não existe um candidato
com a habilidade de fazer da sua campanha um movimento, um candidato que tenha
a resposta na ponta da língua, mesmo que repleto de retórica, que traga uma
ideia nova, um sentimento novo. É cansativo vivenciar a hipocrisia do
denuncismo, a vaidade do "ele não fez, mas eu sei fazer", a soberba
da acusação sobre as verbas mal aplicadas, mas que será diferente "na
minha" gestão, e a manipulação da fé em favor do poder. A arena política é
construída sobre fatos inteligíveis e factoides verdadeiros.
É evidente que há um esvaziamento dos
traços ideológicos na prática política, a velocidade e a quantidade das
informações, não fazem as pessoas mais inteligentes, mais pensantes. Está de
fato, confundindo as pessoas, pois não há tempo mental suficientemente hábil
para que se processe tudo o que nos chega. São denúncias, conspirações,
ataques, defesas e presunções que afastam a sociedade, o eleitorado, daqueles
que pretendem representá-los. Neste jogo de cartas embaralhadas, com algumas
marcadas, é difícil fazer uma sequência que vire o jogo sem que o oponente
desconheça a cartada, ou que em um dos lados seja reconhecido o melhor jogador.
Faltam cartas a mesa ou sobram outras que não fazem parte do baralho.
De certa forma, pode-se dizer que os
eleitores, profundamente em seus anseios, ficam tontos com as movimentações do
cenário político, mas não ligam muito para o resultado, escolhem pela
obrigatoriedade do ato. Pouco interessa quem será o seu representante, seu elo
de ligação entre o estado e as prerrogativas entre o "ser humano", o
"ser moral" e o "ser "constitucional". A grande massa
ainda não percebeu estas evoluções, não se dão conta que os políticos estão a
deriva no mar das mudanças da época, que impõem indecisão nas posturas e nos
comportamentos. Não sabem qual a melhor ideia a ser defendida, com isso
discursam sem alma, se apegam as velhas fórmulas, e tocam o barco cumprindo
ordens de um velho manual qualquer.
Existe um caldeirão de ideologias
colidindo e sendo engolidas pelo sistema econômico. A regra contemporânea é a
exaltação do egocentrismo, promovida pelo neoliberalismo, que modificou a
consciência moral, descontrolando o superego, que tende a trabalhar somente as
vaidades individuais. Diante deste cenário, um paradoxo se instala na
mentalidade dos políticos, pois existem necessidades coletivas que urgem
cuidados, contrapondo-se a vaidade humana que resolve seus problemas no campo
da produção e do consumo descontrolado. Restando somente o pragmatismo, a lei
da vantagem, o falso discurso da prosperidade. É o que é!
Imagem: wikiteacher.wordpress.com
Texto publicado inicialmente em: Revista Fazer Política
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por estar interagindo neste trabalho.
Sua participação é muito importante.