quinta-feira, 21 de maio de 2015

Literatura: Livro Balé Ralé de Marcelino Freire

https://marcelinofreire.wordpress.com
Balé Ralé* de Marcelino Freire**
Primeiras impressões 
Por Altair Ramos


Peguei o livro Balé Ralé nas mãos da doce Joana, conversamos sobre muitas coisas, escritores, escritos, a pessoa do escritor e a pessoa que escreve. Despedimo-nos, fui ali e acolá, cheguei em casa, abri o livro. Não, não abri, passei algum tempo olhando para aquelas duas pessoas da capa. A Imaginar como eram, o que foram e o que são. O que faziam e como faziam. Isso me levou ao Cretáceo, onde vi um enorme meteoro, após isso fui ao Paleolítico, de lá, fiquei a observar o quanto avançamos até aqui.
Lembrei-me também do seriado Lost, que acompanhei durante oito anos. Tal lembrança ocorreu porque na série havia um casal mumificado pelo tempo, em uma gruta do outro lado da ilha. Debateu-se e especulou-se muito sobre as múmias, até que um dia foi revelado, mas a memória que falha, não consegue dar a certeza, se eram mãe e filho ou um casal de idosos sobreviventes, que se conheceram no voo, que ao explodir, despencou na ilha.
Bem, nada disso tem muita relevância com o Livro de Marcelino Freire, porém minha mente foi levada para estes momentos, passando por Nijinski, Chico Science, coisas e coisas que já se foram. Então, achei que deveria expor o que senti. Mas aquelas pessoas, aquelas, que certamente não podem ser tocadas, lá na Holanda, onde estão expostas, podem ser tocadas aqui na capa do livro, tanto podem ser tocadas, que tive a impressão de ter ficado com as mãos impregnadas de barro, poeira e certo odor putrefato.
Então abro o livro e começo a primeira leitura, Homo Herectus. Uma viagem histórico-paleontológica, regada de insights da TV aberta despertando a curiosidade e o lugar comum. Gostei daquilo tudo, sendo levado com um tom notório de seriedade. Então, estou no final da leitura enquanto ouvia Jimmy Hendrix tocando a sua revolução em “May This Be Love”, chego às duas últimas linhas do texto e encontro um fechamento totalmente intencional e surpreendente. Não colocarei palavrão aqui, e ninguém tem nada a ver com isso.
Marcelino Freire traz para o leitor, aspectos da vida que somente as personagens poderiam conhecer, faz um grande exercício de observação e exposição do âmago das pessoas, em flashes que somente as próprias personagens poderiam explicar.  Ao mesmo tempo, tudo é tão claro. De forma poética e romântica, o autor explora os afetos, humaniza vítimas e algozes, a grande maioria, sempre vítimas. Poe vida e movimento em populares invisíveis e sujeitos passivos que não chegam a ocupar os noticiários mais chinfrins.
                          “E ninguém – até então – tinha nada a ver com isso”.




* BaléRalé - Atelie Editorial, 2003 - 127 páginas 
A obra reúne o que o autor chama de '18 improvisos'. Contos curtos que buscam revelar o estilo do escritor, o de procurar 'palavra dentro de palavra', como o 'ANGU' dentro do 'sANGUe', ou o de misturar o erudito com o popular, aqui representados 'Balé' e pela 'Ralé'. 
** Marcelino Freire nasceu em 1967, em Sertânia, PE. Viveu no Recife e, desde 1991, reside em São Paulo. É autor, entre outros, dos livros Angu de sangue (Ateliê Editorial) e Contos negreiros (Editora Record – Prêmio Jabuti 2006)
Fonte: Google Books

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Pedra

PEDRA
Incêndio, fogo na cabeça
Bamba, bomba, bum
Brasa na boca, fumaça
Correria, grana, mané

A boca que tudo quer
Mata a noção e o brio
Suga a carne e a alma
Pele e osso do imbecil

Tudo em que toca, troca
O veneno enfeitiça o ar
Foge a brisa, viva a bruxa
A mente não para, queda
__Altair Ramos

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