terça-feira, 29 de abril de 2014

SOMOS TODOS MACACOS, MALDITOS PRIMATAS



O que esta  questão abraça deveria ir além da discussão semântica e da ordenação social. Uns destacam a atitude como poderosa, sou um destes. O jogador foi impávido ao rebater o ataque com grande ironia, pensamento e ação instantâneos sem a necessidade de medir as consequências. Outros reclamam da campanha por motivos que o próprio preconceito impõe no campo da vontade política antirracial, uma vez que bananas e macacos são símbolos categóricos de atitudes racistas. Alguns outros refutam a campanha por questões de crenças e religiosidade, afinal não somos macacos, somos pessoas.

Não ligo muito para os refutadores, temo que alguns terminem por criticar o jogador pela atitude anticristã, antiteísta. No meu entendimento, uma bola foi lançada para vários rebatedores, não podemos ter a certeza  de onde a mesma cairá. Não sabemos se será rebatida para o campo das teses e antíteses, ou mesmo se permanecerá perdida para sempre, nas órbitas do anedotário do senso comum.
 #SomosTodosMacacos, deveria conduzir-nos  a reflexões mais amplas sobre as nossas origens e sobre os comportamentos sociais. Como evolucionista que sou, abraço a causa com grande entusiasmo, ao mesmo tempo em que tenho a certeza que os argumentos se esvaziem devido a crença numa gênese criacionista. Porém, estes não expõem seus argumentos abertamente, até mesmo por "parecer" que as coisas não se misturam. Embora, tudo sejam galhos e ramos da mesma árvore. Da forma que a campanha é debatida, devido a reação cognitiva que a percepção do substantivo macaco provoca em cada interlocutor, empurrando-o para a banalização, o assunto logo perecera como um escanteio perdido.
Símbolos e conceitos mudam de lugar e de objeto, lembro-me que as torcidas adversárias chamavam o time e a torcida palmeirense pejorativamente de porco, fazendo uma alusão preconceituosa aos italianos que viviam em São Paulo. Nos anos oitenta, num ato de provocação entre torcidas, um porco foi solto em campo, a partir de então o suíno divide tranquilamente o status de mascote do clube com o periquito verde que oficialmente já representava o alviverde. Com isso acabaram-se as  chacotas e humilhações, que não eram direcionadas apenas ao clube, mas principalmente a toda uma classe de estrangeiros, os italianos.
Sugiro então, que a CBF insira uma palma de bananas junto ao distintivo da seleção brasileira (acima ou abaixo do escudo). Melhor ainda, todos os clubes, principalmente as seleções predominantemente de origens africanas, poderiam adotar o símbolo. Até mesmo a FIFA, ao invés de utilizar um lembretezinho em uma faixa, devesse adotar o símbolo Musaceae nos uniformes de todos os escretes participantes da World Cup.
Devemos pensar mais sobre isso, principalmente porque somos feitos da mesma matéria que os macacos. Não somos mais especiais que eles, a ponto de descarregarmos a nossa ira em seres tão empáticos  a nós. Então, se somos capazes de agir desta maneira, é porque de algum modo, nos vemos nestes nossos irmãos terráqueos. E, se não gostamos de alguma coisa em nós, mais do que rapidamente, deslocamos o negativo para outros seres que consideramos inferiores ao que somos. Porque afinal, somos seres humanos.
Se não #SomosTodosMacacos, #SomosTodosPrimatas. É no que acredito!


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